Tributo a Leodegária de Jesus em exposição na cidade de Goiás

Em comemoração aos 135 anos de nascimento, mostra resgata o legado da poeta negra, sua contribuição para a cultura goiana, que teve sua história apagada em Goiás.

A Exposição Entre Lyrios e Orchideas, a pássara ferida traz a contemporaneidade da escritora, jornalista e intelectual negra, Leodegária de Jesus, em comemoração aos 135 anos de nascimento. O lançamento acontece dia 8 de agosto, no Museu das Bandeiras, na cidade de Goiás, às 19 horas. O tributo, que se estende até 30 de dezembro, reúne reprodução de documentos, fotografias, poemas, certificados de títulos, que retratam o enfrentamento ao racismo e machismo na época do coronelismo goiano.

No lançamento, ainda será entregue a Comenda Leodegária de Jesus, promovida pela vereadora Elenízia da Mata, uma das idealizadoras da exposição, para 30 convidados. Na noite inaugural, durante da expografia, haverá a vocalização dos poemas da autora, realizados pela própria Elenízia e por Bianka Cristina Neto, professora e bordadeira, que se entrecruzam no percurso da exposição.

O tributo à precursora na luta pela igualdade de gênero e pela participação das mulheres na política não se restringe apenas à mostra. Para prestigiar a mulher que abriu as portas da literatura goiana, ainda terá oficinas de bonecas de pano, bordados tradicionais e de poemas; lançamento de um documentário sobre a vida e obra e o lançamento de edital de Escrita de Poemas para a adolescentes da rede pública de ensino e para mulheres a partir de 40 anos, que resultará na publicação, em novembro, de um livro com os textos selecionados. Todas as informações para inscrições e sobre a mostra estarão no site www.leodegariabraziliadejesus.com.br que será lançado junto à exposição.

Exposição
Ao passear pela exposição, o espectador poderá conferir a reprodução de imagens da mulher negra e escritora com publicações relevantes sobre o cotidiano, sobre o amor, sobre a realidade de um contexto social de um Goiás de 120 anos atrás. Paralelamente, perceberá que o racismo impõe – por meio das narrativas, do reconhecimento social, cultural – o protagonismo de outros nomes da mesma época, por exemplo, da escritora Cora Coralina, em detrimento ao seu. O fato não significa uma disputa entre mulheres, mas deixa claro o apagamento diante da produção literária de Leodegária de Jesus.

Aproximadamente 25 peças compõem a Entre Lyrios e Orchideas, a pássara ferida. A mostra, sem narrativa cronológica, traz a reprodução de documentos que contam a vida e a obra do poeta, professora, jornalista, cantora, romancista, parnasianista, contista, cronista e crítica literária. São manuscritos, cartas, exemplares das duas obras que publicou- Coroa de Lírios (1906) e Orchideas (1928)-, primeiras edições dos seus livros, fotos e um crochê feito por ela, que detalham a vida ativa Leodegária de Jesus. Os destaques ficam por conta do certificado do título honorífico de cidadã vilaboense, a carteira da OAB e o título de doutora honoris causa concedido pela Universidade Federal de Goiás.

Referência
O tributo é uma realização da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade e Equidade Étnico-Racial da cidade de Goiás, que é realizada por meio de emenda parlamentar do ex-senador Luiz do Carmo e da vereadora Elenízia da Mata.

Entre Lyrios e Orchideas, a pássara ferida dá visibilidade à trajetória e legado de Leodegária de Jesus, primeira das mulheres na poesia Goiana, que tem sua história apagada historicamente em Goiás e no Brasil, em uma época marcada por uma produção cultural essencialmente masculina e branca, que silenciou a vez e a voz de tantas mulheres.

O secretário de Políticas de Promoção da Igualdade e Equidade Étnico-Racial da Cidade de Goiás, Lázaro Ribeiro de Lima, ressalta que o tributo, iniciado com a mostra, pretende revelar um pouco da potência da vida e da obra de Leodegária de Jesus em Goiás, pós-abolição, onde a existência da voz feminina negra ainda era grandemente arrancada de lugares férteis.

“É muito importante mostrar que também há um lugar de positivação da imagem e memória das mulheres negras, que as mulheres negras tenham um destaque singular, pois quase sempre são representadas em lugar de pobreza, de violação de direito e de dores seculares”, reflete.

O tributo é importante a todas as pessoas, principalmente, às negras, no que tange à questão de gênero. A obra de Leodegária de Jesus é contemporânea, inspiradora e potente, já que a poeta, que nasceu em um período pós-abolição, ainda inacabado, escolheu o destino da própria vida em um tempo tão austero.

Leodegária fura a bolha em um momento em que poucas acessam o lugar da escrita. Preferiu viver só, como uma mulher independente, já que não pode viver o amor que desejou. Torna-se mãe solo ao adotar uma criança. Também é referência ao ser arrimo de família, ao se tornar empresária e abrir uma escola para educar meninas. E ainda estudou Direito. É um legado que deve ser sempre lembrado naquilo que é potente, no que é belo, no que tem mobilidade para o tecido social.
Entre Lyrios e Orchideas, a pássara ferida é um convite à escuta, ao olhar atento ao ninho lírico florido no qual pousou e gorjeia a pássara que, embora ferida, seguiu cantando o amor, a dor pelas ruas, igrejas, casarios da cidade de Goiás, atravessou as cercanias da Serra Dourada, transpôs mais de uma centena de anos e alcançou lonjuras. Leodegária de Jesus é a mãe lírica que fez do pranto o canto, registrou amores, dores em versos, contos e canções. Por isso, venha ver, ler e ouvir Leodegária de Jesus! Deixe que ela te encante!

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