Tabagismo ainda é causa de 443 mortes diárias no Brasil
Especialistas explicam que dependência de nicotina é considerada doença crônica e que uso do cigarro em diversos formatos expõe pessoa ao risco de diversos problemas de saúde
A veiculação de propagandas de cigarros foi proibida no Brasil há 11 anos, mas ainda assim o país ainda registra 443 mortes relacionadas ao tabagismo por dia. Os dados do Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária mostram que dessas 161.853 mortes anuais evitáveis, 33.179 são relacionadas a doenças cardíacas, 10.041 ao acidente vascular cerebral (AVC), 24.443 ao câncer de pulmão e 25.683 a outros tipos de câncer.
Além desses problemas, o hábito de fumar é uma das principais causas de doenças, podendo afetar ainda a saúde digestiva, causando alterações no paladar e doenças no aparelho digestivo. Além disso, a ginecologista Ana Flávia Cavalcante, especialista da Singulari Medical Team, destaca que o fumo também tem influência direta na saúde sexual de homens e mulheres.
Longa lista de males do tabagismo
Nos últimos anos, os números do tabagismo vinham registrando queda, com entre 9% e 11% (dados Vigitel e Pesquisa Nacional de Saúde) da população brasileira adulta mantendo o hábito. Contudo, recentemente tem crescido a adesão a cigarros eletrônicos, conhecidos como vape, entre os brasileiros mais jovens. De acordo com um levantamento da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), estima-se que um em cada cinco jovens usa o dispositivo.
Para a ginecologista, é importante ressaltar que embora os malefícios mais debatidos se manifestem com o tempo, o hábito de fumar tem reflexos que podem ser observados mesmo em pessoas mais jovens. “Por exemplo, mulheres fumantes com menos de 35 anos já têm contraindicação para o uso de anticoncepcional combinado”, afirma.
Do ponto de vista ginecológico e obstétrico, o tabaco é visto como um risco para a gestante e o bebê, aumentando a probabilidade de partos prematuros e restringindo o crescimento intrauterino. Contudo, a especialista ressalta que o tabagismo tem influência direta até mesmo na vida sexual do casal pré-concepção. “Fumar diminui a nutrição dos vasos e pode atrapalhar na fase de excitação e orgasmo tanto masculino quanto feminino”, pontua.
De fato, a capacidade do homem de ter e manter a ereção tem relação direta com a exposição ao fumo, segundo aponta estudo publicado pelo International Brazilian Journal of Urology. De acordo com a projeção, 37 em cada 100 fumantes vão ter algum problema no seu relacionamento sexual ligado ao tabaco e abandonar o hábito melhora seu desempenho.
Ameaças menos visíveis
Infelizmente, outros efeitos do fumo são menos visíveis como explica a cardiologista Juliana Tranjan, membro da Singulari Medical Team. Isso porque o tabagismo contribui para a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, levando ao aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Ele também induz a resistência à insulina e ao diabetes, é causa de inflamações e de trombose. Além disso, a inalação de monóxido de carbono produzido pelo cigarro reduz a quantidade de oxigênio transportado pelo sangue.
Por mais grave que o cenário das cardiopatias seja, os especialistas ressaltam que a ameaça do tabagismo se estende a outros órgãos. Isso acontece porque a disseminação da nicotina se dá para todos os tecidos do corpo, tais como pulmão, cérebro e outros, sendo encontrada ainda na saliva, no suco gástrico e no leite materno, por exemplo.