Quasar Cia de Dança realiza projeto com espetáculo presencial no Teatro Goiânia

De volta ao Brasil, depois de uma série de apresentações em Dubai, Emirados Árabes, a Quasar Cia de Dança volta à cena goiana, promovendo ações que remetem a debates sociais contemporâneos, relembram parte da história de 34 anos do grupo e analisam as perspectivas para o futuro pós-pandêmico

Entre os dias 19 de maio e 23 de junho, a Quasar Cia. de Dança convida o público para uma agenda de atrações que retomam momentos importantes do grupo goiano. A primeira das atividades é a transmissão pelo canal do YouTube da Companhia, no dia 19/05 (quinta-feira), às 20h, do documentário AVÁ – CANOEIRO – A teia do povo invisível. Um trabalho audiovisual dirigido por Mara Moreira, finalizado entre os anos de 2005 e 2006, que tem a participação do elenco da Quasar. O documentário foi produzido com o intuito de retratar a dizimação de uma nação indígena, que já foi soberana de vasto território no Centro-Oeste brasileiro. Um tema que segue preocupante no contexto nacional atual, discutido por uma obra que demonstra como a arte é capaz de fomentar debates a respeito de temas sensíveis a toda uma sociedade.
A programação de exibições da Quasar tem sequência ainda em maio, no dia 27 (sexta-feira), desta vez de modo presencial, com a apresentação do espetáculo Estou Sem Silêncio, às 20h, no Teatro Goiânia. Os ingressos deste espetáculo podem ser adquiridos pelo site www.sympla.com.br, pelos valores de R$ 30 (meia-entrada) e R$ 60 (inteira). A doação de 1 quilo de alimento não perecível dá direito à meia-entrada. Os alimentos arrecadados serão doados para o projeto “Adote a Arte”, criado pelo músico Xexéu quando houve o acirramento da pandemia de Covid-19 e muitos artistas, técnicos e produtores perderam seus trabalhos.
Já em junho, outras duas transmissões, nos dias 14 e 23, completam esse ciclo de atrações. No dia 14 de junho (terça-feira), pelo canal do YouTube, a Companhia transmite o espetáculo Tão Próximo, um trabalho cuja estreia aconteceu em 2010 e que trata sobre as possibilidades do encontro com o outro. Uma criação de Henrique Rodovalho que extrapola o universo das individualidades e adverte sobre as nuances das conexões físicas e emocionais, entre corpos e almas, e que, para um momento de retomada das relações sociais, após largo período de isolamento, é uma reflexão necessária e robusta.
Para completar, no dia 23/06 acontece um um bate-papo com os integrantes atuais da Quasar e sua equipe gestora, através de uma live pelo Zoom. Este debate virtual terá como tema o trabalho artístico durante a pandemia. As consequências, perdas, ganhos e adaptações ocorridas ao longo de mais de dois anos e que devem reverberar por longo prazo ainda.
Este projeto conta com recursos da Lei Aldir Blanc e é uma realização do Ministério do Turismo, da Secretaria Especial da Cultura do Governo Federal, por meio do Governo de Goiás, Secretaria de Estado de Cultura de Goiás.
Estou Sem Silêncio
Criado em 2019, após a Quasar completar três décadas de atividades ininterruptas, Estou Sem Silêncio marcou uma espécie de retomada da Companhia, após o fechamento de sua sede. Nesse trabalho, Henrique Rodovalho reuniu um elenco integralmente feminino, com tamanho reduzido, de forma a tornar possível a circulação desse trabalho por mais espaços cênicos, Brasil e mundo afora. E o resultado foi uma obra que conquistou plateias desde a sua primeira exibição. Atento às discussões relacionadas às questões de gênero, Henrique Rodovalho elaborou um espetáculo que tem a mulher como o centro. Quatro bailarinas expõem, através do corpo, sentimentos cotidianos do universo feminino. Mulheres sensuais, submissas e livres, alegres e tristes, que amam intensamente, sofrem, perdoam, vão do riso às lágrimas. Com exceção do bolero de Ray Conniff, a música das cantoras Céu, Tulipa Ruiz e Grace Carvalho estão na trilha sonora do espetáculo.
Avá-Canoeiro – A teia do povo invisível
Realizado em 2005/2006, o documentário conta a história da nação indígena Avá-Canoeiro, que viveu na região Centro-Oeste do Brasil, antes da chegada dos estrangeiros que usurparam seu território. Vítimas de um dos massacres mais cruéis do branco contra os povos indígenas brasileiros, os avás foram sendo exterminados ao longo do tempo e, hoje, restam apenas alguns sobreviventes deste povo de resistência heróica. A Quasar fez parte deste trabalho compondo cenas que atravessam, corporalmente, as narrativas dos criadores. A ficha técnica da obra conta com a direção geral de Mara Moreira, roteiro e co-direção de Andiara Maria, produção executiva de Rodrigo Santana e direção de arte de Shell Jr. (in memorian).

Tão Próximo (Estreia: 2010)
O fascínio pelo entendimento das propriedades dos relacionamentos trouxe reflexões acerca do território limítrofe entre a convivência social e a intimidade com as pessoas que nos cercam, sejam elas conhecidas ou não. Tão Próximo questiona uma possível distância que persiste entre as pessoas e provoca os sentidos propondo uma interrogação: até que ponto podemos, ou devemos, nos aproximar? “No processo criativo, as relações mais óbvias já não me interessavam. O que me instigou foi pensar sobre os mistérios e as incertezas”, afirma o coreógrafo. Em cena o elenco opta pela ruptura de barreiras, quando egoísmo e altruísmo entram em discussão. Para o próximo, ou para nós mesmos, a aproximação consumada é boa ou má?
Essa obra conta com trilha sonora de Hendrik Lorenzen, Naná Vasconcelos, Céu, Matmos e Taylor Deupree, figurino de Cássio Brasil e cenografia do próprio Henrique Rodovalho.
34 anos de um trabalho consistente e reconhecido
Com 34 anos completos em fevereiro de 2022, a Quasar Cia. de Dança segue traçando novos caminhos e novas perspectivas de atuação, diante dos cenários que se apresentaram para sua continuidade nos últimos 8 anos (o fechamento do Espaço Quasar se deu em 2016, por falta de patrocínio). A pandemia trouxe ainda mais desdobramentos para a consubstanciação de um trabalho que exige dedicação diária, esforço contínuo, formação continuada, e, em grande parte das criações, a presença física dos trabalhadores das artes, já que a dança é expressão do corpo e das histórias impregnadas nele.
Neste caso, este projeto busca exatamente a reflexão sobre as diversas dinâmicas que perpassam a Companhia ao longo de sua trajetória de décadas, e sobre o que é possível fazer para que a arte sempre permaneça e seja caminho de diálogo para outras ponderações, contemplações e ruminações. Tudo isso sem deixar de prezar pelo poder criativo da originalidade de movimentos, pelo apuro técnico da execução e pela qualidade de produção.
Seguem à frente da companhia os seus fundadores, Vera Bicalho (diretora geral) e Henrique Rodovalho (diretor-artístico e coreógrafo). A dupla segue investindo esforços para a continuidade da Companhia. O elenco tem atuado por meio de convites para projetos específicos, mas a busca pela permanência é constante. O principal objetivo de ambos segue sendo a profissionalização da dança e a formação de um público que melhor contextualize um trabalho que se pauta por uma forte identidade autoral. É o prazer artístico respaldado pelo selo da qualidade.

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