Psicóloga explica as repercussões da vida uterina no desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida
Muita gente ainda não se deu conta que o desenvolvimento humano inicia-se dentro do útero. E os acontecimentos na gestação, enquanto o bebê está em formação pode repercutir até sua vida adulta, é o que irá mostrar a doutora em Psicologia Social pela PUC/SP, mestra em Psicologia do Desenvolvimento pela UNIMARCO e neuropsicóloga do Hospital Sirio Libanês de São Paulo, Sandra Schewinsky, uma das palestrantes da VII Jornada de Saúde Mental e Fé Cristã. O evento acontece nos dias 22 e 23 de setembro no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia.
Em sua palestra, intitulada O desenvolvimento integral do ser humano, ela explicará que o cérebro do bebê forma-se desde as primeiras impressões de algumas sensações e estimulações. “Os primeiros estímulos vem com o som do coração da mãe. O bebê mais para o final da gestação já consegue reconhecer a voz da mãe e do pai, do irmão, por exemplo músicas podem acalmar o feto,e também recebe as primeiras impressões do estado emocional da mãe”, diz.
Ela pontua que gestações com mães depressivas passam suas emoções para o bebê o que pode influir na sua formação cortical. “Bebês ainda no ventre de mães depressivas, são crianças que mexem menos, têm menos movimentação. Essa movimentação intrauterina é importantíssima para o bom desenvolvimento do feto, depois a mesma coisa se dá com o estresse, o cortisol liberado na corrente sanguínea dessa mãe vai para o bebê e pode trazer também algumas alterações neurológicas e até na arquitetura do cérebro dessa criança”, complementa.
O desenvolvimento de boa gestação começa pelo cuidado com o corpo, uma nutrição adequada, exercícios regulares e sono de qualidade, considera Sandra, mas não se deve negligenciar as emoções da gestante, porque elas serão absorvidas também pelo bebê em formação.
“A vida adulta emocionalmente carrega os vestígios das primeiras emoções. Com certeza, a gente traz todas essas sensações, essas emoções elas ficarão mapeadas, gravadas no cérebro e isso será importante na constituição do repertório emocional que esse adulto terá ao longo da vida”, esclarece.
Ela explica que os traumas ficam gravados no seu cérebro e, se o indivíduo não tem uma condição de superá-los, de refazer esses processos, pode se tornar um adulto violento. “A violência é o que ele conhece é uma forma dele tentar dar conta daquelas emoções desagradáveis. Então os traumas que não são tratados eles podem ser de fato extremamente perniciosos para o adulto”, diz
*Processos de superação*
De acordo com Sandra, a vida adulta emocionalmente carrega os vestígios das primeiras emoções, contudo, as sensações, as emoções ficam mapeadas, construindo um repertório emocional que esse adulto terá ao longo de sua vida, porém não é um destino. “Uma mãe que teve muitos problemas durante uma gestação e sua criança os absorve… se o filho for estimulado com um ambiente tranquilo e relações afetivas acolhedoras, ela desenvolverá a plasticidade neuronal, e irá superar os traumas. A grande questão é que bebê vem de uma gestação tumultuada, nasce e o ambiente continua tumultuado”, diz
Ela lembra que uma criança bem acolhida é uma criança bem estimulada, que não tem tantos hormônios de estresse, desenvolvendo assim um repertório emocional e uma capacidade afetiva ampliada. “Isso é o que o torna um adulto tranquilo e com equilíbrio emocional”, conta a especialista.
Ela lembra que o desenvolvimento integral não beneficia apenas o indivíduo, mas também a sociedade como um todo, indivíduos bem desenvolvidos têm maior probabilidade de contribuir de maneiras positivas para suas comunidades, promovendo empatia, colaboração e busca de soluções para os desafios globais, diferentes dos que carregam traumas.