Programas de saúde mental são indispensáveis para pequenas e médias empresas, alerta especialista
Nos últimos anos tem sido cada vez mais frequente ouvir notícias sobre afastamento dos trabalhadores brasileiros devido à saúde mental e, no pós-pandemia, a pauta teve ainda mais relevância.
A preocupação com a saúde mental do brasileiro já não é novidade, ainda mais quando dados comprovam que o Brasil se destacou em terceira posição como pior índice de análise psicológica, em um ranking somado por 64 países, segundo o relatório anual do Estado Mental do Mundo, divulgado neste ano pela organização sem fins lucrativos, Sapien Labs.
Como solução, projetos internos dentro de organizações para prevenção a este problema tiveram mais destaques nos grandes escritórios. Mas, e os pequenos e médios negócios, como agem nessas precauções com seus colaboradores devido às estruturas e orçamentos menores e aos trabalhadores de operações, como trabalhar políticas de bem-estar para este perfil que executa tarefas nas ruas e ambientes mais expostos”?
O especialista em carreira da BR Talent, Rudney Pereira Junior, analisa o potencial dos pequenos e médios negócios com relação à prestação de apoio na saúde mental dos colaboradores. “É comum discutir prevenção ao suicídio, por exemplo, quando estamos dentro de uma organização com estrutura formada, inúmeros colaboradores, orçamento estável, time de RH com diversas especializações para agregar ao tema e ferramentas para monitorar a saúde do funcionário. Mas o cenário muda ao nos depararmos com as companhias menores, em que há acúmulos de tarefas, orçamento apertado ou no limite, execução de um setor mais braçal de atuação entre outros desafios que precisam ser comparados”, alerta.
As grandes empresas impulsionam a macroeconomia brasileira, como estimam-se os estudos e, consequentemente devido à sua maior estrutura, criam-se mais possibilidades de inserções de incontáveis políticas de bem-estar aos colaboradores. Mas, essas práticas são diferentes quando olhamos para os empreendimentos mais sucintos, com poucos trabalhadores, caixa e logística.
Essas micro e pequenas empresas criam sete a cada 10 empregos formais no país, como apontam os dados do Caged ao lado do Ministério do Trabalho e Emprego. A estimativa é que essas empresas, de porte menor, podem oferecer mais chances de crescimento para a economia, já que agregam na demanda de contratação. Sendo assim, há necessidade de ações com cuidados de prevenção de riscos à saúde neste grupo de organizações com cada vez mais frequência.
“O que uma pequena e média empresa deve fazer é não deixar de efetuar ações voltadas ao cuidado da saúde mental do colaborador mesmo que sua estrutura seja de um porte reduzido. Como solução, o primeiro passo é fazer um raio-x para identificar como estão seus colaboradores, entender o caixa financeiro, a capacitação do RH para este projeto, ajustar o T&D e outras avaliações para que tudo seja mais acessível nesta demanda. Em seguida, é possível olhar para os projetos de grandes organizações, tentando implementar de maneira que se adequem à realidade do seu pequeno e médio negócio”, explica Rudney Pereira Junior.
Projetos e rede de apoio
O especialista também ressalta a importância de se criar uma rede de apoio e como isso fortalece na implementação de projetos de cuidados psicológicos. “As empresas menores, com menor verba, podem se ajudar com a criação de uma rede de networking para que os programas possam ser compartilhados e barateados. Além, também, de atuarem na compra de serviços por meio de um consultor que possa trazer esses temas e desenvolver programas, ações práticas e uma metodologia mais acessível”, explica.
De acordo com o alerta emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), são 15% dos trabalhadores (na faixa etária: adultos), que vivem com um transtorno mental. O dado vem de um recorte abrangente e que considera o âmbito global, e com isso reforça o alerta de necessidade do engajamento sobre as precauções no ambiente de trabalho atualmente e nas próximas décadas.
A abordagem sobre transtorno mental dentro das empresas tem se tornado cada vez mais frequente e comitês de ESG, das grandes organizações tem se atentado à demanda de incluir em seus relatórios a saúde de cada indivíduo dentro da corporação e a importância de seu papel. Porém, ainda há receio de que é comum encontrar programas que busquem o bem-estar dos colaboradores quando os mesmos atuam dentro de escritórios, mas, aos trabalhadores que prestam serviços de maneira operacional, longe do office, as medidas parecem ser escassas.
E os trabalhadores operacionais?
O especialista em carreiras e diretor da consultoria global BR Talent, Rudney Pereira Junior, traz à tona a problemática de que as políticas de bem-estar à saúde mental do colaborador são quase que inexistentes. “O primeiro ponto é que o colaborador que atua diretamente no operacional, em serviços com mais esforços corporais, que são tão relevantes antes e depois da pandemia, não sofreu com as modificações do mercado de trabalho. Eles, mesmo assim, tiveram esgotamento maior, exposição contínua e poucos privilégios. Já os não operacionais tiveram benefícios de conhecer novos regimes, culturas corporativas e, ainda, se atentarem às vantagens de um ambiente menos insalubre possível- e colhem, ainda, frutos disso”, conta.
O suicídio no Brasil cresceu 11,8% no último ano, ao comparar com 2021, como mostra o levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho. E as ações que as pequenas e grandes empresas devem fornecer, independente da sua situação econômica e porte, são medidas que evitam esse aumento de mortes e, também, colaboram para frear o absenteísmo presente.
Consequentemente, essas medidas também podem contrapor a expectativa dos 12 bilhões de dias trabalhados que podem ser perdidos, por ano, devido à problemas com depressão e ansiedade. O preço que isso pode gerar para economia mundial é de quase 1 trilhão de dólares, como alerta o relatório “Diretrizes sobre Saúde Mental no Trabalho”, feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“A solução para esse colaborador de operações, independente do porte da empresa que trabalha, é que o RH, junto com a liderança, crie projetos que possam ser inseridos da mesma maneira daqueles que não são de trabalho operacional, mas já estão inclusos. O trabalhador que atua no operacional necessita de um cuidado duas vezes maior, já que suas atividades envolvem riscos e a sua saúde corporal e mental deve ser mediada por meio do RH constantemente”, finaliza.