Esta é uma expressão usada para descrever jovens que nem estudam nem trabalham. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2022, havia 10,9 milhões de cidadãos que não estudam e nem trabalham na faixa etária dos 15 aos 29 anos, uma parcela significativa da nossa juventude. Isso representa não apenas um desafio individual, mas uma questão crítica para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Conforme a síntese de indicadores do IBGE, divulgada no início de dezembro, as jovens mulheres entre 15 e 29 anos que nem estudam e nem trabalham eram cerca de 7 milhões em 2022, representando 63,4% do total. Dessas, 2 milhões disseram cuidar de parentes e dos afazeres domésticos, também de acordo com a síntese.
As mulheres entram na equação “nem-nem” por duas razões principais: gravidez precoce e maior participação no cuidado de outras pessoas em casa, segundo os pesquisadores. O trabalho doméstico não é computado quando se calcula o Produto Interno Bruto (PIB). As mulheres que cuidam dos filhos e dos idosos estão trabalhando; é um trabalho que existe e é importante, mas, em geral, lamentavelmente não é considerado nas estatísticas e nem nas análises.
O fenômeno “nem-nem” não é um mero acidente estatístico, mas o resultado de uma complexa teia de fatores históricos, sociais e econômicos. A história recente do Brasil, marcada por instabilidades econômicas e desigualdades sociais profundas, criou um terreno fértil para que muitos jovens se encontrassem desvinculados das estruturas educacionais e do mercado de trabalho.
Em janeiro de 2024, um estudo do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), divulgado pelo Estadão, estimou uma perda de até 10 pontos porcentuais no potencial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ao longo de 30 anos por causa desse fenômeno. Ou seja, pela primeira vez, alguém quantificou o tamanho do problema que está sendo gestado.
Quais as causas da geração “nem-nem”?
Analisar as causas subjacentes à geração nem-nem é essencial para formularmos soluções efetivas. Primeiramente, os fatores econômicos desempenham um papel crucial. O desemprego e o subemprego entre jovens no Brasil são alarmantes, muitas vezes fruto de uma economia que oscila e não consegue absorver essa mão de obra emergente. Além disso, a informalidade do trabalho oferece poucas oportunidades de desenvolvimento profissional.
Em segundo lugar, as barreiras educacionais são um obstáculo significativo. O sistema educacional brasileiro, muitas vezes, falha em reter alunos e prepará-los adequadamente para o mercado de trabalho. Problemas como evasão escolar, ensino de baixa qualidade e falta de alinhamento com as necessidades do mercado são recorrentes – e complexos de serem solucionados.
Por fim, não podemos ignorar os fatores socioculturais. A desigualdade social, que é um problema crônico no Brasil, impacta diretamente na educação e na empregabilidade dos jovens. Muitos deles, especialmente em regiões menos privilegiadas, não têm acesso às mesmas oportunidades, o que perpetua um ciclo de exclusão social e econômica.
Segundo o estudo do IMDS, pode-se resumir como causas do “nem-nem” baixa escolaridade; inserção ruim no mercado de trabalho; saída precoce do emprego; e baixa produtividade ao longo de toda a vida profissional.
Propostas para mudar o cenário
À medida que concluímos nossa análise sobre a geração “nem-nem” no Brasil, é imperativo refletir sobre a urgência e a gravidade desse fenômeno. Vejo essa situação não apenas como um desafio, mas também como uma oportunidade para promover mudanças significativas.
É essencial reconhecer que a solução para este problema vai além de meras intervenções isoladas. Requer um esforço colaborativo envolvendo governo, setor privado, instituições educacionais e a sociedade civil. Políticas públicas eficazes, programas de qualificação profissional, incentivos educacionais e a criação de oportunidades de emprego são fundamentais para reverter essa situação.
Além disso, como educadores, devemos nos dedicar a desenvolver metodologias de ensino que sejam mais inclusivas, práticas e alinhadas com as demandas do mercado de trabalho. A educação deve ser vista como um caminho para a empregabilidade e o desenvolvimento pessoal, e não apenas como um requisito formal.
Se não podemos transformar a educação em algo para ser transferido instantaneamente, podemos trabalhar para que esse processo seja possível. Creio que, ao equipar nossos jovens com as habilidades e os conhecimentos necessários, podemos não só reduzir o número de indivíduos na categoria “nem-nem”, mas também contribuir para o crescimento e o fortalecimento da nossa sociedade. Vamos nessa!
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Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica. |