Não quero ser mãe: como lidar com a sociedade?

Psicóloga Deise Moraes Saluti fala sobre o assunto e dá dicas para as mulheres que não querem ter filhos

Antigamente, acreditava-se que as fases da vida eram nascer, crescer, reproduzir e morrer. Mas, claro, isso ficou no passado, pois há muito o que se acrescentar nessa trajetória. E o que tirar também, como a maternidade.

No Brasil, por exemplo, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), as mulheres estão optando por terem, no máximo, dois filhos, enquanto em 1960 a estimativa era de ao menos 6.

O movimento “Not Mothers”, que podemos traduzir para “Mães Não” e mostra mulheres que não querem a maternidade, constata que hoje quase 40% das brasileiras optam por isso.

Neste contexto, a psicóloga Deise Moraes Saluti conta que esse é um tema recorrente em seu consultório.

“Recebo muitas mulheres com a queixa da maternidade. Que sofrem pressão de todos os lados, dos pais, dos amigos e, muitas vezes, elas decidem se afastar dessas pessoas a ter que ficar inventando desculpas para justificar os motivos aos quais ela não deseja ser mãe. A psicologia trata como direito dessas pessoas, direito de optar em não ser mãe, direito em não ter o desejo da maternidade, direito único, não um defeito e muito menos um transtorno. Não há problemas mentais algum em não querer ter um filho”, esclarece.

Segundo a profissional, o âmbito profissional influencia muito nessa decisão. “E influencia no sentido positivo, de não desejar interromper a vida profissional ou acadêmica para cuidar de um filho. Por muitos anos a mulher foi a única responsável pela organização de uma casa, agora os casais fazem todo o trabalho juntos. Dividem as contas e possuem os mesmos direitos”, cita. E continua: “Sonhos, conquistas e realizações não estão definitivamente ligadas à única e exclusivamente a maternidade não, há outras conquistas que as mulheres estão adquirindo. Liberdade de expressão e direitos de fazer o que bem entender com seus corpos é sim uma das maiores conquistas e liberdade feminina dos últimos anos”.

Não quero ser mãe, como lidar com a sociedade?

Para Deise, a primeira atitude a ser tomada pela mulher que faça essa opção é não se sentir culpada. “A mulher jamais deverá ser julgada ou culpada por desejar priorizar outras questões em sua vida. A maternidade não é mais sinônimo de fertilidade, fértil é quem tem vigor pela vida, alegria de viver e ser feliz”.

Cobranças serão feitas, familiares irão fazer comentários, mas isso tudo deve ser relevado quando se tem um objetivo em mente.

Saluti ressalta que somos todos diferentes e, por isso, o importante é saber o significado do respeito com o próximo e com a gente mesmo. “Se todos nós parássemos de olhar o outro com nossa régua e nossa opinião, viveríamos em um mundo muito mais acolhedor. Todo mundo deseja ser respeitado, mas muitos possuem dificuldade em respeitar. Muitas mulheres que não optam pela maternidade sofrem julgamentos e preconceitos de todas as partes. Isso precisa acabar. Precisamos respeitar o indivíduo dentro de sua totalidade e com suas questões. Incluir o direito do outro como dever de qualquer pessoa é extremamente transformador. Menos julgamentos e mais acolhimento”, diz.

E finaliza: “Somos feitos de desejos e os seus desejos só dizem respeito a você mulher, linda, inteligente, carinhosa, acolhedora, amiga, esposa e profissional. Que nunca lhe falte desejos para sonhar, vontades para conquistar e um grande amor-próprio para seguir. De resto, não lhe falta nada. Se alguém precisar que você tenha um filho para ser feliz, encaminhe-o à terapia, esse sim necessita de um bom tratamento psicoterapêutico”.

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