MARÇO AMARELO: endometriose atinge uma em cada dez mulheres no Brasil
A Organização Mundial da Saúde estima que 180 milhões de mulheres são diagnosticadas com endometriose no mundo, destas, sete milhões são brasileiras. A doença afeta de forma significativa a fertilidade. Ela surge quando o tecido endometrial se implanta fora do útero, provocando reação inflamatória e dor, levando a uma formação de aderências pélvicas que distorcem a anatomia local e acarretam na disfunção perineal, o que afeta a capacidade reprodutiva. Com a finalidade de promover a conscientização da sociedade sobre o tema, foi criado o “Março Amarelo”, campanha nacional para debater os sinais, sintomas, prevenção, diagnóstico e tratamento da endometriose.
A advogada, Giovanna S. de Oliveira, (47), relata que teve sua vida mudada devido a doença. Aos 13 anos de idade começou a sentir os primeiros sintomas e relata as dificuldades que enfrentou até seu diagnóstico. “Na época não se falava em endometriose. Lidei com a falta de informação e empatia da classe médica e das pessoas que julgam que era exagero, dengo ou que era normal. Não é normal sentir dor que te faz contorcer, você não dorme, não come e fica com um fluxo menstrual descomunal que nem os absorventes noturnos dão conta”, explica.
Giovanna conta que durante toda sua vida sentiu fortes dores que a levavam ao hospital. Dores essas que acarretavam queda de pressão e desmaios. Apesar de ser algo corriqueiro, em torno de 15% das mulheres com endometriose são assintomáticas. As demais sofrem com cólicas menstruais progressivas, conforme explica o Dr. Edilberto de Araujo Filho, especialista em Reprodução Humana Assistida e membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). “Elas vão piorando com o tempo. Depois as dores aparecem fora da menstruação, na relação sexual, ou quando a paciente menstrua e relata dor na direção do ânus”, explica.
Por outro lado, a endometriose afeta 10% das mulheres em idade reprodutiva e cerca de 30% a 50% delas apresentam infertilidade. O risco de a doença se agravar está em alguns hábitos, mas também é consequência das transformações ocorridas na sociedade. “Entre os fatores que influenciam, estão o estresse, a alimentação e a poluição, somados ao fato de que as mulheres estão protelando a maternidade por questões profissionais e econômicas, gestando menos, amamentando menos, mas menstruando bem mais do que há 20 ou 30 anos”, comenta o especialista.
Para Giovanna, a doença mudou sua visão da maternidade. A advogada explica que foram 27 anos até seu diagnóstico. “Desde pequena, sempre quis ser mãe. Eu e meu esposo tentamos engravidas inúmeras vezes e nada. Fizemos coito programado, hormônios, FIV e nada. Falam que a endometriose dificulta o processo. Hoje temos 4 embriões congelados, mas preciso ter certeza de que meu corpo e mente suportariam passar pelo processo”, relata.
O debate sobre o tema traz esperança para mulheres como Giovanna, que por anos suportaram as dores dos sintomas e que viram seus sonhos da maternidade abalados. A especialista em reprodução humana e membro da diretoria da SBRA, Hitomi Nakagava, fala da importância de um mês dedicado a tratar da endometriose. “Vários fatores têm levado há um aumento na detecção da endometriose e, sem dúvida, a conscientização da sua existência com informações sobre suas repercussões levará muitas mulheres a não sofrerem por tanto tempo, sem assistência adequada” afirma.
Para a advogada, falar sobre o tema é essencial, como nos casos de personalidades famosas, como a cantora Anitta, que em 2022 veio a público falar sobre seu diagnóstico e compartilhar sua experiência. “Se a pessoa tem visibilidade, tem que falar e levar a informação correta. Tem que fazer outras pessoas pensarem e entenderem que é uma doença sim e que acomete milhares de mulheres”, ressalta.
Giovanna finaliza afirmando que é “possível, sim, ter qualidade de vida com a endometriose”. E para as milhares de mulheres que convivem com as dores da doença pelo mundo, a advogada deixa uma mensagem. “Vivam um dia de cada vez. O equilíbrio entre corpo e mente é essencial. E, mais do que tudo, sejamos unidas, o que nós precisamos: empatia e sororidade”, concluí.
REPRODUÇÃO ASSISTIDA
Nos casos em que a endometriose afeta a fertilidade, as técnicas de reprodução assistida podem ajudar. “A mulher jovem com diagnóstico de endometriose leve, com menos de 2 anos de infertilidade, espermograma do parceiro normal e trompas normais, pode se beneficiar de uma técnica de reprodução assistida de baixa complexidade, como a inseminação artificial ou intrauterina. No entanto, o acompanhamento e planejamento deve ser feito por um especialista, que saberá quando mudar de técnica”, garante o Dr. Edilberto.
Já para os graus mais avançados da doença, é recomendada a Fertilização In Vitro (FIV). “Os óvulos maduros são fertilizados com os espermatozoides do companheiro formando embriões que são selecionados no laboratório e depois transferidos direto para dentro do útero por via vaginal, também guiado por ultrassom”, pontua.
Outra opção para os casos graves de endometriose em que a reserva ovariana ou a qualidade dos óvulos podem ser comprometidas, é indicado o congelamento de óvulos.
A prevenção, portanto, é fundamental para evitar a doença. É imprescindível fazer o diagnóstico precoce, assim como o tratamento. “Para isso temos que ter em mente os sinais e sintomas da doença e, para diagnosticar os casos assintomáticos, fazer pelo menos um ultrassom transvaginal de rotina anual”, assegura o Dr. Edilberto.