Mãe e filha: vínculo de complexidade e amor

 Lançamento de Keka Reis, escritora finalista do Prêmio Jabuti, mergulha no luto de uma adolescente após a partida da maior referência e quebra com o clichê “aborrescente” ao dar dimensão às dores da juventude

Sozinha, adjetivo que dá nome ao quarto romance da escritora finalista do Prêmio Jabuti Keka Reis, é como se sente a personagem Rosa após a partida repentina da mãe. Publicada pela Editora Gutenberg, a novidade traz à tona a delicada, às vezes simbiótica, relação entre meninas adolescentes e a figura materna.

Entretida com a vida escolar, amigas e namorado, a protagonista está na fase intensa da adolescência, cheia de impulsos rebeldes e certezas absolutas. Em uma das brigas frequentes com a mãe Julieta, a jovem personagem deixa escapar um pensamento reprimido: “Acho que a minha vida seria muito mais fácil se você morresse de uma vez.” O que Rosa não esperava era que o impensável estava prestes a acontecer. Ela se vê sozinha em uma das fases mais complexas da vida após a mãe sofrer um aneurisma fatal logo depois de uma briga.

Quem quer sair de um lugar quente e aconchegante para viver em um mundo que tem tiozinhos abusadores? Quem quer viver em um lugar em que as pessoas desaparecem das nossas vidas de uma hora para outra e sem aviso? Eu nunca falei isso para ela. Porque, para a minha mãe, eu sempre fui a garota mais forte do mundo. É justamente o que estou tentando ser agora. Agora que ela foi embora e me deixou sozinha. Sozinha. Sozinha.
(Sozinha, p. 22)

Sem abrir espaço para o choro e falar sobre a dor do luto com outras pessoas, Rosa se transforma rapidamente em um espectro da filha, ao seu ver, idealizada por Julieta:  uma adolescente politizada, ácida e supostamente forte. Ao longo das 203 páginas, a protagonista enfrenta o desafio de se afastar da figura materna para poder encontrar o próprio jeito de ser mulher, ao mesmo tempo que enfrenta  crises  de pânico e a dificuldade de se relacionar com a avó materna.

Carregado de cenas que traduzem a intensidade da adolescência, Sozinha é uma jornada intensa e emocional de transformação e amadurecimento que toca em importantes questões da juventude contemporânea. “Terminei de escrever Sozinha, um livro que fala de luto, no meio da pandemia da Covid-19 e acho que a coincidência foi bastante oportuna. Precisamos falar sobre perdas e travessias depois de tudo que experimentamos”, reflete Keka Reis.

Sobre a autora: Keka Reis é escritora, roteirista e dramaturga. Nos anos 1990, escreveu, produziu e dirigiu programas na MTV. Como roteirista, tem colaborado desde 2006 em filmes e inúmeras séries para a TV. Estreou na literatura com “O dia em que a minha vida mudou por causa de um chocolate comprado nas Ilhas Maldivas”, seguido por “O dia em que a minha vida mudou por causa de um pneu furado em Santa Rita do Passa Quatro”, finalistas do Prêmio Jabuti em 2018 e 2019, respectivamente. “Medley ou os dias em que aprendi a voar”, romance adolescente lançado pela autora em 2021, surgiu de um roteiro cinematográfico premiado em diversos festivais internacionais. “Sozinha” é a novidade da escritora.

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