Julho Amarelo chama atenção para hepatites virais que em duas décadas resultou em mais de 700 mil casos

Hepatologista ressalta doença é silenciosa, mas que teste rápido, vacinas, cuidados higiênicos e uso de preservativos são as principais formas de prevenção

De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais de 2022, divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde, de 2000 a 2021, foram confirmados 718.651 casos do tipo no Brasil. Do total, 279.872 (38,9%) foram referentes a casos da hepatite tipo C, 264.640 (36,8%) de hepatite B, 168.175 (23,4%) hepatite A e 4.259 (0,6%) ocorrências de hepatite D. Ainda segundo o boletim, a hepatite C responde pela grande maioria dos óbitos por hepatites virais, sendo que entre 2000 a 2020, foram 62.611 mortes associadas à doença, 76,2% do total.

Esses e outros dados chamam a atenção para o Julho Amarelo, campanha que busca conscientizar as pessoas em relação às ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais, sendo que o 28 deste mês marca também o Dia Mundial de Luta Contra tais doenças. As hepatites B e C são as principais causas de cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer de fígado).

O grande problema, segundo explica o hepatologista Rafael Ximenes  é que a grande maioria dos casos não apresenta sintomas até que a doença esteja em estágio mais avançado, o que pode levar décadas para acontecer. Por isso ele chama atenção para a realização de exames regulares, como principal forma de prevenção. “Por se tratar de doença com possibilidade de um período muito longo sem sintomas, a recomendação é de que toda pessoa com algum fator de risco para hepatites virais faça o teste para descobrir se tem esta enfermidade. O exame é muito simples e está disponível nas redes pública e particular de saúde. É um teste rápido que pode ser feito com uma pequena gota de sangue ou o exame laboratorial tradicional”, esclarece o médico.

O especialista também explica quais são os indivíduos com maior predisposição a desenvolver as hepatites B e C. “Os principais grupos de risco são pessoas acima de 40 anos, quem possui múltiplos parceiros sexuais, indivíduos que já receberam transfusão de derivados do sangue (em especial antes de 1.993), quem faz hemodiálise ou já foi submetido a transplante de órgãos. Também entram nesse grupo usuários de drogas e pessoas que já fizeram tatuagens ou colocação de piercing”, afirma.

Sinais
Apesar de uma evolução silenciosa, Rafael Ximenes lembra que as hepatites virais podem sim apresentar alguns sintomas que podem chamar a atenção. “Existem duas situações em que as hepatites virais podem dar sinais. Uma é quando há um quadro mais agudo e a pessoa contraiu a infecção há pouco tempo. Nesse caso, a pessoa pode apresentar sinais como febre, náuseas, desconforto abdominal, falta de disposição, icterícia (olhos e pele amarelados) e escurecimento da urina. Ou então os sintomas aparecem após vários anos, ou até mesmo décadas, mas aí temos um quadro avançado da doença em que há a cirrose descompensada e/ou câncer de fígado, e os sinais são aumento da barriga por acúmulo de líquido (ascite), sonolência e confusão mental (encefalopatia hepática), vômito com sangue, sangramento nas fezes, icterícia e perda de peso”, detalha o médico.

Em relação às formas de se evitar a enfermidade, o hepatologista destaca que varia de acordo com sua forma de transmissão. “As principais hepatites virais (A, B e C) têm formas de transmissão diferentes e, com isso, as estratégias de prevenção também mudam. No caso da hepatite A, a transmissão se dá pelo consumo de água e alimentos contaminados ou de pessoa para pessoa. A prevenção pode ser feita com melhoria das condições sanitárias da população, como mais acesso à água tratada e rede de esgoto e cuidados na higienização das mãos e dos alimentos”, orienta.

No caso da hepatite tipo B, conforme explica o especialista, pode ser transmitida por via sexual, parenteral (através do sangue ou material contaminado com sangue) ou vertical (de mãe para filho). Para essa última forma de contaminação, Rafael Ximenes explica que a melhor maneira de prevenção é a realização de um pré-natal bem conduzido. “Já para a prevenção em outras situações, as orientações são o uso de preservativos nas relações sexuais, não compartilhamento de materiais que possam ter contato com sangue (como lâminas de barbear, material de manicure, agulhas e seringas), cuidados adequados em procedimentos médicos e estéticos, em especial cirurgias, transfusão de sangue ou outros hemocomponentes e na realização de hemodiálise. Merecem também atenção especial os procedimentos para tatuagens e colocação de piercings”, esclarece.

Vacinas
Sobre a hepatite C, ele também esclarece que a principal via de transmissão é a parenteral, com a prevenção podendo ser feita com o não compartilhamento de materiais que possam ter contato com sangue. “O rastreamento e tratamento dos indivíduos infectados por este vírus também ajuda na prevenção da infecção para outras pessoas. Hoje temos disponibilidade no Sistema Único de Saúde (SUS) de tratamentos oferecidos gratuitamente, com alta eficácia (mais de 90% de chance de cura), usado por tempo limitado (8 a 24 semanas) e com poucos efeitos colaterais”, informa o médico.

Além disso, a vacinação pode ser feita de forma gratuita na rede pública de saúde. “Hoje temos disponíveis as vacinas contra as hepatites A e B. Toda pessoa que não foi imunizada contra essas infecções pode e deve ser vacinada, exceto em caso de contraindicação (que são raras)”, comenta o hepatologista Rafael Ximenes.

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