Gravidez tardia: possibilidades, riscos e tratamentos alternativos
Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em Infertilidade e Ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela FEBRASGO, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre
Segundo o Ministério da Saúde, o número de mulheres que foram mães após os 40 anos subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138 em 2015, dado mais recente disponível. As estatísticas de 2015 mostram que 72.290 dessas mães tinham entre 40 e 44 anos, e outras 4.475 estavam na faixa etária dos 45 aos 49. Mulheres com menos de 30 anos têm uma chance de gestação, ao mês, de aproximadamente 25%. Entre 36 e 37 anos, ela cai para cerca de 15%. Entre 38 e 40 anos, a taxa vai para 10% e, entre 41 e 42 anos, chega somente a 5%.
Em paralelo à queda na probabilidade de gestação ocorre um aumento no risco de abortamento e de alterações cromossômicas, sendo a síndrome de Down a mais conhecida. Esses fatores estão diretamente ligados à idade materna, ou seja, a idade do óvulo. A ovogênese (nome dado ao processo de formação dos óvulos) inicia-se durante a vida fetal da mulher e não volta a acontecer em nenhuma outra fase. Ou seja, ela tem seu início e fim na vida fetal.
Para ter ideia, o feto feminino contém, aos seis meses, cerca de 7 milhões de óvulos, caindo para 2 milhões ao nascimento. Essa redução se mantém ao longo de toda a infância e, na puberdade, restam 400 mil óvulos no corpo feminino. Eles são liberados todos os meses, durante a ovulação. Ao longo da vida reprodutiva, a mulher vai perdendo esse estoque. Quando isso acontece, temos a menopausa – ela ocorre, em média, aos 48 anos na mulher brasileira. Nessa fase, não há mais a liberação de novos óvulos. Ou seja, o estoque de óvulos é finito. Não há uma produção contínua – como os homens têm de espermatozoides. Além disso, a perda que acontece mês após mês não é somente em número, mas também em qualidade. Daí porque há diminuição das taxas de gravidez natural com o avançar da idade da mulher.
Alternativas para gestação – Mas, é possível engravidar após a menopausa. Uma das opções é utilizar óvulos congelados e recorrer aos tratamentos de fertilização in vitro (FIV), que aumentam em aproximadamente duas vezes a taxa de gestação – mas isso varia de acordo com a idade em que os óvulos foram armazenados. Nesse caso, a chance de gestação é maior do que as taxas naturais porque, após a fertilização dos óvulos com espermatozoides em laboratório, já se coloca um embrião pronto dentro do útero da paciente. Vale lembrar que é possível congelar e usar os próprios óvulos posteriormente ou contar com a doação. O processo de ovodoação acontece quando mulheres com menos de 34 anos, que realizaram a FIV, optam por doar seus óvulos excedentes para outra mulher. Os óvulos congelados mantêm a mesma capacidade reprodutiva (ou seja, a mesma chance de gestar) desde o dia em que houve o congelamento. Exemplo: uma paciente que congelou os óvulos com 34 anos e quer engravidar aos 46, tem uma chance ao redor de 50-60%. Sem o congelamento, sua chance de engravidar de forma natural seria menor que 1%. O mesmo vale para óvulos doados. Outra possibilidade é contar com a doação de embriões doados por outro casal.
Precisão – Como as mulheres estão postergando cada vez mais a gestação, a idade materna vem aumentando, assim como a utilização de tratamentos de reprodução assistida. Infelizmente, os métodos disponíveis para avaliação da reserva ovariana são imprecisos, especialmente em mulheres mais jovens, dificultando a orientação das mesmas em relação ao seu futuro reprodutivo. Apesar da imprecisão, recomenda-se solicitar os exames disponíveis para mulheres que desejam gestar, mas que não decidiram quando, e o congelamento de óvulos deve sempre ser orientado, principalmente se a mulher tem mais de 35 anos.
Riscos – Toda gestação após os 35 anos (natural ou não) é considerada de risco. Além da queda da fertilidade, há maiores riscos obstétricos decorrentes tanto do envelhecimento ovariano quanto da frequência aumentada de doenças crônicas pré-existentes na mulher, que surgem com o decorrer da idade. Há possíveis incidências de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, obesidade, parto prematuro, aborto espontâneo e, principalmente, síndrome de Down na criança. Em suma, o período ideal para gestação é entre os 20 e 30 anos. Isso porque, além de ser a fase de maior fertilidade, há menor incidência de problemas crônicos e risco reduzido de aparecimento de patologias na gestação, tanto para a mãe quanto para o feto.