Exposição gratuita celebra médicos que atuaram na Revolução de 1932

A Associação Paulista de Medicina (APM) promove de julho a setembro deste ano a exposição gratuita “Os Médicos e a Revolução Constitucionalista de 1932”, celebrando os 92 anos desse fato histórico e enfatizando a participação de profissionais da Saúde no movimento revolucionário. A mostra conta com itens originais da época e que fazem parte do acervo do Museu de História da Medicina da APM, incluindo fotos, equipamentos e utensílios, além de painéis que explicam a história de alguns dos médicos que atuaram no movimento, como Adhemar Pereira de Barros, Carlota Pereira de Queiroz, Darcy Villela Itiberê, Jairo de Almeida Ramos, Jorge Michalany e o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, que foi convocado para a guerra em lado oposto aos paulistas.

“A Revolução de 32 teve forte apoio e engajamento da população e médicos clínicos, cirurgiões, estudantes e professores de medicina, que se deslocaram para as frentes de batalha e para os hospitais de campanha voluntariamente, movidos pelo sentimento do dever cívico e pelo amor ao Estado de São Paulo. Essa história merece ser contada”, aponta Cleusa Cascaes Dias, diretora Cultural da Associação Paulista de Medicina e curadora da exposição.

As histórias da APM e da Revolução são interligadas: a fundação da associação se deu no ano de 1930, tendo como um de seus fundadores Jairo Ramos, médico combatente no movimento, que chegou a presidir a APM em duas oportunidades e teve notável carreira no ensino e na Medicina. Além dele, outros médicos ilustres que participaram da Revolução integraram diretorias da APM, como Darcy Itiberê e Jorge Michalany. “A ideia da exposição é destacar alguns médicos pensando na contribuição que fizeram ao desenvolvimento da medicina, ao ensino, ao associativismo, à emancipação feminina, à política e ao crescimento do Brasil”, explica Cleusa. “Em especial, homenageamos o fundador do Museu de História da Medicina da APM, Jorge Michalany, que participou da revolução como cabo-enfermeiro, aos 15 anos de idade, e foi responsável pela doação da maior parte da memorabília da Revolução, exposta no Museu da APM”.

A exposição ainda contará com dois painéis organizados pelo diretor Cultural adjunto da APM e psiquiatra forense, Guido Arturo Palomba, que analisam o assassinato de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mártires do Movimento Constitucionalista de 1932, conhecidos como MMDC (acrônimo composto pelas letras iniciais de seus nomes). A morte desses heróis culminou na eclosão da Revolução, em 9 de julho daquele ano, e o material original exposto na mostra apresenta os detalhes de como o assassinato aconteceu.

A exibição ficará disponível para visitação gratuita do público de 22 de julho a 20 de setembro de 2024, das 9h às 18h, no Museu de História da Medicina da APM.

Sobre a Revolução de 1932

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um levante de São Paulo contra o governo autocrático de Getúlio Vargas, com o objetivo de derrubar seu governo provisório e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para promulgar uma nova Constituição. A revolta começou oficialmente em 9 de julho de 1932 – considerada a data cívica mais importante do estado de São Paulo. Porém, as forças constitucionalistas foram esmagadas militarmente em 2 de outubro de 1932.

Apesar da derrota militar, algumas das principais reivindicações do movimento foram atendidas por Vargas posteriormente: a nomeação de um Governador de Estado não militar, a eleição de uma Assembleia Constituinte e, finalmente, a promulgação de uma nova Constituição em 1934. No entanto, a nova Constituição teve vida curta, pois, em 1937, Vargas fechou o Congresso Nacional e promulgou outra Carta Magna, que estabeleceu o chamado Estado Novo após um golpe de Estado.

Médicos que participaram do movimento

Juscelino Kubitschek (1902-1976)

Quando eclodiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo, Juscelino, graduado em Medicina em 1927, exercia a profissão em Belo Horizonte. Convocado para a guerra em lado oposto aos paulistas, montou o Hospital de Sangue de Passa Quatro, Minas Gerais, onde assistiu os feridos dos sangrentos combates na Serra da Mantiqueira.

Após a Revolução, ingressou na vida política, sendo eleito deputado federal em 1934. Posteriormente foi prefeito de Belo Horizonte, deputado federal, governador de Minas Gerais e Presidente da República do Brasil. Notabilizou-se pela criação de Brasília.

Profa. Dra. Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982)

Nascida em São Paulo, formou-se em Medicina no Rio de Janeiro, em 1926, e retornou à terra natal durante a Revolução Constitucionalista. Organizou e dirigiu o Departamento de Assistência aos Feridos (DAF), liderando mais de 700 mulheres no apoio à causa revolucionária. Em novembro de 1932, fez parte da comissão que foi ao Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, para buscar os últimos prisioneiros constitucionalistas que lá estavam internados. Eleita para a Assembleia Nacional Constituinte, em 1933, Carlota foi a primeira mulher a ocupar um cargo de deputado federal no Brasil e a única a assinar a Constituição de 1934, ao lado dos outros 252 constituintes, todos homens.

Foi membro da Academia de Medicina de São Paulo e fundadora da Associação Brasileira de Mulheres Médicas, em 1951, entidade que presidiu no período de 1961 a 1965. Recebeu muitas homenagens pela trajetória brilhante, e na Praça Califórnia, no bairro de Pinheiros (SP), há um busto esculpido por Luís Morrone em sua memória.

Adhemar Pereira de Barros (1901–1969)

Participou como combatente na Revolução de 1932. Com a derrota do movimento cívico-militar, exilou-se na Argentina e no Paraguai, onde foi médico na Guerra do Chaco.

Foi médico, aviador, empresário e político muito influente em São Paulo, vindo a exercer os cargos de deputado estadual, governador e prefeito da capital. Deixou um legado de importantes obras públicas realizadas nos seus mandatos, destacando-se na área da Saúde: o início da construção do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo e do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, além da interiorização do Campus da USP em Ribeirão Preto, com a fundação da Faculdade de Medicina.

Prof. Dr. Jairo de Almeida Ramos (1900-1972) 

Formado na sexta turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1923, teve participação ativa na Revolução Constitucionalista, chefiando o setor clínico do Hospital de Sangue de Cruzeiro, no qual foram atendidos 1428 soldados.

Durante a revolução, com o fechamento do hospital em Cruzeiro, transferiu-se para o Hospital de Taubaté. Jairo teve notável carreira médica e foi um dos fundadores da Escola Paulista de Medicina, onde criou o Departamento de Clínica Médica e a Disciplina de Cardiologia. Sócio fundador da Associação Paulista de Medicina, presidiu a associação no período de 1945 a 1952 e de 1955 a 1956, e fundou e presidiu a Academia Paulista de Medicina. Auxiliou na criação do Conselho Regional de Medicina e foi sócio fundador da Associação Médica Brasileira, da Associação Brasileira de Escolas Médicas e da Associação Paulista de Hospitais.

Recebeu várias honrarias e homenagens em vida, com destaque para a Classe de Grande Oficial da Ordem do Mérito Médico, conferida pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek, em outubro de 1959, e a Ordem do Mérito Médico – Classe de Grã-cruz do Ministério da Saúde, em agosto de 1965.

Prof. Dr. Jorge Michalany (1916-2012)

Aos 15 anos, tornou-se cabo-enfermeiro porque não tinha idade para ir ao campo de batalha, tendo a função de transportar soldados e voluntários feridos até a Santa Casa. “Quis tomar parte na Revolução porque amo São Paulo”, contava Michalany.

Nascido em São Paulo, graduou-se em Medicina em 1942, pela Escola Paulista de Medicina (EPM). Teve brilhante carreira como médico anatomo-patologista na EPM, e de sua extensa biografia, destaca-se ter sido o fundador do Museu de Medicina da Associação Paulista de Medicina e doador de grande parte do seu acervo. Foi curador do museu de 2002 a 2012, distinguido com a Medalha da Constituição, maior láurea outorgada pelo Legislativo paulista, e ocupou a cadeira de número 6 da Academia de Medicina de São Paulo. Faleceu em 9 de julho de 2012, na data comemorativa da Revolução que tanto defendeu.

Prof. Dr. Darcy Villela Itiberê

Darcy Itiberê foi uma figura notável no campo da Medicina. Sua participação como médico combatente na região de Barretos, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, evidencia seu engajamento não apenas na prática médica, mas também nas questões sociais e políticas de seu tempo.

Participou ativamente da vida associativa, integrando várias diretorias da APM, e chegando a presidir a Associação Paulista de Medicina no período de 1957 a 1958. Além disso, participou da criação do Cremesp, sendo um dos responsáveis pela escolha dos nomes que compuseram sua primeira chapa eleita.

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