Documentário difunde cultura quilombola a partir da história de Marta Kalunga

O documentário “Marta Kalunga” estreia nesta sexta (01/7), às 19 horas, em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Dirigido por Lucinete Morais, Marta Kalunga e Thaynara Rezende. Com abertura de exposição do artista Tainam Malta, apresentação de sussa kalunga e show da cantora Sistah Dani e da DJ Kaju, o evento inaugura a Casa Memória da Mulher Kalunga e dá início à campanha de financiamento coletivo para reforma e manutenção do novo espaço cultural.

“Marta Kalunga” é uma narrativa etnobiográfica em que a protagonista é também diretora e roteirista da obra audiovisual. A partir do corpo-território de Marta, seu envolvimento com o tear, a dança, a valorização da memória e a preservação da cultura, o filme propõe um encontro com a história de muitas mulheres quilombolas kalungas.

O Vão de Almas é uma das áreas habitadas de Cerrado mais preservado da Chapada dos Veadeiros. Ali a eletricidade só chegou em 2017 e existem poucos indícios visíveis da “modernidade” neste território. Marta Kalunga nasceu neste lugar, em comunidade originalmente formada por negros que se organizaram em quilombos, no nordeste do estado de Goiás.

As famílias que vivem no Vão de Almas, assim como no Vão do Moleque, mantêm seu modo de vida tradicional, suas crenças e religião, suas formas de falar e agir, preservam seus saberes e fazeres. Em 1991, toda a área ocupada por esta comunidade foi reconhecida pelo Estado de Goiás como sítio histórico que abriga o patrimônio cultural Kalunga.

No final de 2020, a antropóloga Lucinete Morais chegou a Cavalcante e hospedou-se no Hostel Kalunga para cumprir o período de quarentena, antes de seguir para o Vão de Almas. Ela planejava etnografar a comunidade, sua trivialidade e também testar o roteiro do filme, codirigido pela fotógrafa Thaynara Rezende. “Não foi possível. Ainda sem a vacina, os Kalungas não aceitaram minha presença”, lembra ela.

Assim, o primeiro desafio da antropóloga foi repensar o campo de pesquisa. Os novos rumos para a realização do filme se apresentaram no próprio Hostel Kalunga ─ que tem Marta como proprietária. “Uma questão importante norteou o trabalho de seis meses de pesquisa: como contar a história de uma mulher e representar outras tantas”, comenta a antropóloga.

Parte da solução encontrada por Lucinete foi convidar a própria protagonista para colaborar na direção e no roteiro do filme. “Todos os trabalhos que faço são inspirados na minha cultura e no desejo de que toda a sabedoria das mulheres Kalungas seja valorizada, fortalecida e ampliada”, diz Marta Kalunga.

Para elas, horizontalizando assim as hierarquias cinematográficas, o filme foi se distanciando ainda mais da possibilidade de romantização da vida da mulher quilombola kalunga. O roteiro perpassa a história de Marta e seu cotidiano, buscando perceber o que há de tradicional e de contemporâneo em sua lida, seu corpo e modo de existir. “A obra foi conquistando liberdade à medida que entendemos qual deveria ser a narrativa, quem deveria narrar, o que narrar, como e para quem”, revela Thaynara. O filme será distribuído com legendas em três idiomas: inglês, espanhol e alemão.

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