Covid-19: “sequelas deixadas pela vírus podem evoluir para quadros graves e até fatais”, afirma fisioterapeuta
Uma das percepções provocadas pela pandemia do coronavírus foi a importância da fisioterapia no processo de reabilitação, cura e retomada da independência cognitiva, física e psicológica do paciente acometido por complicações pós-covid.
Ao contrário do que muitos pensam, os profissionais de fisioterapia não fazem massagem, eles executam técnicas, testes e atividades cientificamente comprovadas, que promovem a reabilitação, prevenção e também a cura de várias doenças. Especialmente, em relação às sequelas deixadas pela covid-19, quando esses profissionais exercem papel fundamental no processo de retomada da qualidade de vida e reestabelecimento do controle físico, emocional e neurológico do paciente sequelado.
Para a fisioterapeuta e coordenadora de equipe multidisciplinar do Sistema Hapvida-GO, Dra. Bruna Machado, é justo se preocupar com uma possível epidemia subjacente e silenciosa da síndrome pós-covid. “Em estudos, até 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma até quatro meses depois do fim da infecção. Especialmente, em casos graves da doença, que exigiram internação em UTI, tendem a comprometer mais severamente o organismo ao longo do tempo. Porém, episódios leves também podem deixar marcas prolongadas”, observa a especialista.
Mal-estar, dores de cabeça e perda de olfato tendem a se resolver sozinhos. Afinal, esses sintomas são típicos da covid-19 não é mesmo? “Não! Principalmente, se você não está positivado, mas já contraiu o coronavírus uma ou mais vezes. Especialistas demonstram preocupação com as consequências invisíveis, subjacentes e silenciosas de sequelas pós-covid. Portanto, é necessário estar atento a todos os sinais”, afirma Bruna Machado.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), mais de 11 milhões de brasileiros são considerados curados da covid-19 até o momento. A alta procura por tratamento fisioterapêutico por pacientes sequelados pela covid-19, é motivo de preocupação sobre os riscos de lesões graves e irreversíveis que, na maioria das vezes, são potencializados e antecipados pelo vírus.
“A covid-19 é uma condição complexa, que pode evoluir para quadros graves e fatais”, afirma a fisioterapeuta Bruna Machado. Segundo a especialista, apesar da maioria das pessoas que contraem o vírus apresentem poucos sintomas, pelo menos 5% dos pacientes desenvolvem a forma mais severa da doença, que é capaz de afetar várias regiões do organismo (não só o sistema respiratório), deixar sequelas e exigir internação hospitalar e atenção multiprofissional, inclusive com fisioterapia. “Embora não exista comprovação científica, percebemos que a infecção e comprometimento dos órgãos, estão longe de ser apenas uma questão localizada e passageira. Há repercussões prolongadas em vários órgãos” É importante ressaltar que, mesmo após a alta do hospital, para muitos desses pacientes o tratamento não se encerra. O indivíduo deve ter um acompanhamento depois, uma vez que os sobreviventes de quadros mais graves têm um risco de 59% de morrer até seis meses após a infecção, segundo dados da Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva (Assobrafir).
E como a fisioterapia pode ajudar nesses casos? Ela atua na reabilitação por meio de técnicas, exercícios e acompanhamento individualizado do paciente. O profissional pode lançar mão de métodos como cinesioterapia, eletroterapia, fisioterapia respiratória e cardiológica, a depender dos sintomas e das sequelas, sempre buscando maximizar a qualidade de vida do paciente. “Um aspecto importante a ser observado é que não são poucos os indivíduos que, diante da covid longa, apresentam ansiedade e depressão. Daí a necessidade de trabalhar o emocional e contar com a psicoterapia”, pondera a especialista.
Outro ponto que merece destaque segundo a fisioterapeuta, é que: “Os cuidados pós-covid devem ser redobrados, especialmente, em relação aos sinais corporais esporádicos que se intensificam ao passar dos dias”. O acompanhamento com médico, fisioterapeuta e demais profissionais pode fazer toda a diferença na reabilitação. E não vamos esquecer: a recuperação não se limita à passagem pelo hospital ou ao período das consultas.
De acordo com a especialista, de maneira geral, as principais manifestações do pós-covid relatados até agora são: fadiga, falta de ar, dores de cabeça, dores musculares, queda de cabelo, perda de paladar e olfato (temporária ou duradoura), dor no peito, tontura, tromboses, palpitações, depressão, ansiedade, dificuldades de linguagem, raciocínio, memória e equilíbrio laboral.
Para ter ideia, um dos braços da iniciativa Coalizão Covid-19 Brasil acompanhou cerca de mil indivíduos internados e concluiu que até 17% tiveram que ser hospitalizados novamente tempos depois – e 7% morreram até seis meses depois da alta. Os dados são preliminares, e ainda não foram publicados em periódicos científicos.
O Dia Mundial da Fisioterapia, celebrado nesta quinta-feira, 9, assinala a união e a solidariedade da comunidade de fisioterapia e, além de oportunizar o valor e importância dos fisioterapeutas, é uma excelente oportunidade para ressaltar o valor da especialidade na manutenção e melhoria da mobilidade e independência funcional de pacientes remanescentes da covid-19. “A fisioterapia estuda o movimento humano e quando nos deparamos com situações adversas como a covid, que potencializa e antecipa complicações físicas e neurológicas, percebemos que o acompanhamento e participação continuada da evolução do paciente em conjunto com a equipe médica, nos ajuda a compreender e analisar cada vez mais as particularidades da doença, e oferecer um planejamento adaptado às adversidades agressivas e silenciosas em evolução no organismo do paciente”, pondera Dra. Bruna Machado.