Com ajuda da neurociência e da arte, um novo jeito de aprender matemática e falar sobre dinheiro chega ao palco

O que a neurociência tem a ver com uma peça infantil sobre finanças? Tudo. Avanços no campo da educação e das ciências do cérebro têm mostrado que todos são capazes de aprender matemática — desde que ela seja apresentada de forma concreta, criativa e significativa. É nesse contexto que o espetáculo Família Dindim chega a Goiânia, nos dias 12 e 13 de abril, propondo uma conversa delicada e divertida sobre dinheiro, escolhas e afetos, a partir do ponto de vista das crianças.

A antiga ideia de que apenas algumas pessoas “têm jeito” para os números está sendo desconstruída por pesquisas que integram neurociência e educação. Em artigo publicado pelo jornal Estadão (4/04), a professora Jo Boaler, da Universidade de Stanford, populariza o conceito de mathematical mindset — ou mentalidade matemática — ao demonstrar que o cérebro humano possui plasticidade para aprender o que for necessário, desde que o ambiente favoreça a experimentação, o raciocínio e a construção do conhecimento. Levar esse conceito à sala de aula — ou ao palco — transforma profundamente a maneira como crianças se relacionam com a matemática.

Na peça Família Dindim, os irmãos Mateus e Catarina enfrentam uma semana especial na escola: o desafio de criar um projeto de educação financeira. Enquanto Mateus sonha com uma chuteira nova, Catarina guarda um segredo que, aos poucos, será revelado. Em casa, os pais tentam equilibrar o orçamento familiar e apoiar os filhos em meio a dificuldades reais. Com leveza e humor, o espetáculo convida o público a refletir sobre consumo consciente, frustrações, escolhas e partilha — tudo isso por meio de uma narrativa com a qual famílias inteiras podem se identificar.

Com direção de Carla Candiotto e dramaturgia e músicas originais de Gustavo Kurlat, Família Dindim conta com a colaboração pedagógica do professor Milton Sgambatti, doutor em Educação Matemática. “Conceitos financeiros ganham mais concretude quando inseridos em um enredo com o qual as crianças se identificam. O teatro é uma poderosa ferramenta lúdica que reforça o trabalho que muitas escolas já desenvolvem”, explica o educador.

A peça é complementar ao movimento de escolas que buscam inserir a educação financeira desde os primeiros anos da vida escolar. No Colégio Equipe, em São Paulo, alunos do 5º ano organizam bingos e vendas para financiar uma viagem ao campo. Estudantes do 9º ano criam um cinema dentro da escola e promovem rifas para a formatura. No ensino médio, é tradição um leilão de arte com obras doadas por pais artistas. “A proposta é que os alunos vivenciem a organização coletiva, tomem decisões em grupo e desenvolvam consciência financeira desde cedo”, afirma Luciana Fevorini, diretora da escola.

A mesma lógica prática e colaborativa orienta o trabalho do Centro Educacional Pioneiro, também em São Paulo, onde os alunos do 9º ano participam do Projeto Trilha. A proposta é empreendedora: os estudantes criam produtos, calculam custos, definem preços e vendem os itens com o objetivo de arrecadar recursos para uma viagem de final de ano. Durante o percurso, aprendem na prática sobre orçamento, lucro, metas e trabalho em equipe. “A experiência é concreta e coletiva: eles descobrem, na prática, como tomar decisões financeiras e lidar com dinheiro de forma responsável”, afirma a coordenadora pedagógica Selma Alfonsi.

Além da apresentação, Família Dindim oferece às escolas um material pedagógico complementar com sugestões de atividades interdisciplinares, para que professores possam explorar em sala de aula os temas abordados na peça de maneira criativa e contextualizada. Professores da rede pública têm entrada gratuita mediante apresentação de comprovante.

Ao romper com o modelo tradicional de ensino e integrar arte, afetividade e raciocínio lógico, Família Dindim se apresenta como uma proposta educativa alinhada às normativas do MEC e às novas pesquisas sobre aprendizagem — e uma poderosa aliada para transformar a forma como crianças, famílias e escolas falam sobre dinheiro.

Serviço

Local: Teatro Goiânia – Rua 23 com Avenida Tocantins, 252 – Qd. 67, Lt. 28 – Setor Central