Brasil deve liderar diplomacia ambiental nas relações internacionais

Em evento organizado pelo CEBRI e pelo Instituto Igarapé no Brazil Climate Hub, da COP-27, especialistas ressaltaram a importância de uma transição energética justa

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e o Instituto Igarapé organizaram em parceria nesta sexta-feira (11/11), no Brazil Climate Hub da COP-27, o evento “Brasil, potência verde: retomada da liderança na governança ambiental e climática”. Segundo a ex-ministra do Meio Ambiente e Conselheira Emérita do CEBRI, Izabella Teixeira, o Brasil reúne as condições ideais para liderar uma diplomacia ambiental que estabeleça uma ordem internacional mais inclusiva, democrática e voltada para o desenvolvimento sustentável.

“O mundo volta a apostar no Brasil como uma resposta para o futuro. Não mais com um olhar de desconfiança e de estarrecimento, mas de esperança. A agenda climática não é uma pauta partidária, mas de desenvolvimento”, frisou Izabella Teixeira. Segundo a ex-ministra do Meio Ambiente, a questão ambiental é o caminho para o Brasil propor uma nova ordem nas relações internacionais globais, que estão num processo de reformulação. A partir da ideia de associação entre preservação ambiental e desenvolvimento humano, essa nova diplomacia está baseada em um multilateralismo renovado.

Jennifer Morgan, Secretária de Estado e representante para Política Climática Internacional do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, declarou que seu país está otimista com o novo governo brasileiro e que espera mais oportunidades de cooperação entre os países no que tange às energias renováveis. Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation, reforçou a declaração de Morgan, falando sobre a “alegria do Brasil estar de volta ao mundo”.

A presidente do Instituto Igarapé e também Conselheira do CEBRI, Ilona Szabó, reforçou a urgência do tema e a conexão entre as agendas climática, energética, social e econômica para os países e o papel do Brasil. “O Brasil faz falta ao mundo multilateral. Existe hoje uma enorme ambição, enquanto sociedade civil, governo e setor privado, para que retomemos um papel de liderança na governança ambiental e climática. Há uma grande expectativa de que possamos voltar à mesa e responder aos desafios trazidos pela emergência climática”, avalia.

O Embaixador do Brasil no Egito e Conselheiro Consultivo Internacional do CEBRI, Antônio Patriota ressaltou a importância da transição energética justa. “Os africanos, por exemplo, são pressionados a aderirem à transição energética, enquanto mais da metade da população do continente não tem acesso à energia elétrica. Enquanto isso, a Europa aumenta o seu consumo de energia e volta a usar carvão por conta da guerra”, disse. Segundo o diplomata, a governança climática requer maior representatividade e poder dos países em desenvolvimento junto aos órgãos internacionais, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.

“A questão climática é hoje uma questão de segurança internacional, segurança energética, alimentar. A África hoje contribui com menos de 4% dos gases de efeito estufa e é impelida a se endividar para se adequar à transição energética. O orçamento da indústria armamentista é de cerca de dois trilhões de dólares. Precisamos encontrar mecanismos de participação mais efetivos para destinar recursos para causas que salvem o planeta, e não para causas que não tem nenhum valor civilizatório, como a guerra”, avaliou Antônio Patriota.

A ativista indígena Txai Suruí, que ganhou notoriedade na última COP-26, disse que os povos originários vêm desempenhando o papel de “diplomatas” do Brasil no cenário internacional. “Nos últimos anos, os povos originários atuaram como “diplomatas” do Brasil no mundo. Precisamos parar de olhar o passado e olhar para frente. Soluções baseadas na natureza não se resumem ao mercado de carbono. É preciso cuidar das pessoas e envolvê-las na transição”, alertou.

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