Belarus suspende venda de fertilizantes para o Brasil, diz embaixador

O embaixador de Belarus no Brasil, Sergey Lukashevich, disse que o país, que é aliado de Moscou, na Rússia, foi ‘obrigado’ a suspender as vendas de fertilizantes para o Brasil porque o escoamento foi proibido pela Lituânia, que fechou fronteiras. “Sem esses produtos, a oferta vai diminuir e o preço deve disparar ainda mais”, afirmou.

O anúncio feito na terça-feira (1º/3), Lukashevich ressaltou ainda que Belarus é responsável por mais de 20% de todo o produto utilizado pelo agronegócio brasileiro. “O potássio bielorrusso, que representa 20% do mercado brasileiro, é agora impossível de ser entregue aos consumidores brasileiros, porque a Lituânia “democrática”, nosso vizinho do norte com seus 2,7 milhões de habitantes, proibiu o trânsito de nosso potássio para o Brasil, com seus 214 milhões de habitantes, sob slogans “democracia”, disse o embaixador em entrevista ao jornal Correio Braziliense.

Sergey Lukashevich afirmou ainda que “esta não é uma maneira elegante de privar o Brasil de fertilizantes para soja, milho e café. Aumenta a fome neste país e diminui a vantagem competitiva dos produtos agrícolas do Brasil nos mercados mundiais”.

Exportações

Com relação às exportações russas, há um cenário de incertezas se a Rússia conseguirá manter as entregas de produtos. Isso porque, com o endurecimento das sanções financeiras contra o país, em que bancos foram bloqueados do sistema de transferências internacionais Swift, ainda não está claro se os compradores internacionais conseguirão fazer os pagamentos pelas importações.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem repetido, no entanto, que o Brasil tem opções para importar fertilizantes, citando como exemplos Irã, Canadá e Marrocos. Mas especialistas do setor avaliam que a situação não é tão simples e que a gravidade do cenário varia de insumo a insumo.

Perspectivas

A perspectiva do Ministério da Agricultura é de que o Brasil tenha abastecimento de fertilizantes suficiente para o consumo interno até outubro deste ano, reafirmou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Bastos Filho. Esta estimativa trabalhada pelo governo, divulgada na quarta-feira (2/3) pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, considera os estoques atuais da indústria e as importações que ainda tendem a ser feitas pelo País.

“Não sabemos quanto tempo a guerra (entre Rússia e Ucrânia) vai durar, mas não podemos pensar que vai interromper totalmente as exportações de outros países. Muito volume já foi comprado antecipadamente pelos produtores. É uma dinâmica que nos mostra que até outubro ainda tenha algum tipo de abastecimento”, disse Bastos Filho ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. “Vai depender do quanto a guerra vai afetar o fluxo marítimo internacional do transporte deste produto, mas ainda não estamos vendo cenário catastrófico”, apontou.

Na manhã desta quinta-feira (3/3) a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) informou que o Brasil possui atualmente estoque de fertilizantes para os próximos três meses, ou seja, até o início de junho. O secretário esclarece que a perspectiva da pasta considera esse volume de estoques domésticos de três meses com base em line-ups de navios que apontam para a chegada de 4,5 milhões de toneladas até o início de junho, mas também leva em conta que a importação de adubos pelo Brasil de outros países, fora os do Leste Europeu, tende a continuar.

“O fluxo internacional de fertilizantes pode ser reduzido por causa das restrições de Belarus e do conflito entre Rússia e Ucrânia, mas não se está imaginando neste momento uma interrupção total tanto desses países quanto dos demais”, comentou. Segundo o secretário, o governo vai seguir monitorando os line-ups de importação daqui para a frente e o cenário de abastecimento interno. “No momento, vemos que, até a entrada da safra de grãos 2022/23, o abastecimento de fertilizantes tende a ser suficiente, pois temos estoques domésticos, tem fluxo de importação e compromisso pré-assumido entre produtores e fornecedores com adubos adquiridos para próxima safra”, explicou.

O cálculo do governo ocorre em meio às incertezas crescentes quanto a uma possível interrupção no fornecimento de fertilizantes pela Rússia, em virtude da guerra com a Ucrânia. A Rússia é um dos maiores players no mercado internacional de fertilizantes. É o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos exportados no mundo. Os russos são o principal fornecedor de adubos ao Brasil, com cerca de 20% do volume internalizado anualmente.

Impacto já no bolso dos produtores goianos

Ao AR, o coordenador do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, confirmou que os valores dos fertilizantes vão subir e que uma nova cotação dos preços deverá ser divulgada pelo Instituto. “Uma empresa sinalizou que o aumento no valor dos fertilizantes foi de 15% até agora”, disse o coordenador.

Segundo Machado, o reflexo nos valores também é fruto das mudanças cambiais. “A tendência cambial passou por uma reversão nas últimas semanas. A tendência era de baixa e, agora, passou para uma alta no câmbio – o que pressiona o preço dos fertilizantes. Com certeza, esse quadro é agravado pelo fato da Rússia e Bielorrúsia serem grandes exportadores de fertilizantes principalmente para o Brasil”, avalia o coordenador do Ifag. “De fato, todo esse aumento também é reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia.”

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