Avança processo de registro das Cavalhadas a Patrimônio Cultural do Brasil
Com a retomada das Cavalhadas, avança o processo de registro da manifestação como Patrimônio Cultural do Brasil . A candidatura segue agora para a etapa de instrução técnica quando será elaborado o dossiê com informações sobre a manifestação
Atração turístico-cultural, as Cavalhadas que movimentam as cidades goianas, movendo pessoas de diversos locais a prestigiarem os espetáculos, irão retomar as apresentações após a pandemia. Realizadas há mais de 200 anos, a manifestação revive batalhas entre cristãos e mouros, e são realizadas com a presença dos cavaleiros e mascarados, que se apresentam com coreografias que simulam lutas em cidades do interior de Goiás.
Dada a importância história e cultural das cavalhadas, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebeu em 2019 a solicitação, com extensa documentação, de registro do festejo a Patrimônio Cultural do Brasil. Após análise da equipe técnica do órgão, que avalia se estão contemplados os requisitos, a solicitação foi considerada pertinente e avança para a próxima etapa.
“Agora, o processo segue para a fase de instrução, com o levantamento de documentação e informações sobre o bem cultural, oriundas de uma extensa pesquisa. Após dois anos de pandemia e com o retorno da manifestação aos cavalhódromos, campos e ginásios, facilitará a pesquisa etnográfica que irá compor o dossiê de registro”, explica a historiadora do Iphan-GO, Renata Galvão.
Quando o Iphan recebe um pedido de registro do patrimônio imaterial, a documentação passa por uma análise da equipe técnica do órgão, que avalia a conformidade dos requisitos necessários. Em seguida, o processo é encaminhado para a análise da Câmara Setorial do Patrimônio Imaterial, que delibera pela pertinência ou não da solicitação, conforme os critérios do Decreto Lei nº 3551/2000.
Em seguida, um dossiê será elaborado e, então, apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que delibera se o bem pode ser reconhecido nos termos da política federal. Após essa etapa, é concedido o título de Patrimônio Cultural do Brasil. O processo detalhado para obtenção do reconhecimento encontra-se na Resolução 01/2006 do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.
O superintendente do Iphan-GO, Allyson Cabral, destaca que “diante da importância e do significado que as cavalhadas possuem, não somente reproduzindo história, mas por serem encenadas em cidades turísticas, as manifestações fazem com que milhares de pessoas visitem os municípios neste período. Esse reconhecimento do Iphan é merecido e muito importante para as cavalhadas”.
Transformações
As cavalhadas remontam às lutas travadas por Carlos Magno e os Doze Pares de França. Os participantes que encenam o espetáculo se exibem montados a cavalo e muito bem paramentados. As cores predominantes das vestimentas são o vermelho e o dourado para os mouros e o azul e prateado para os cristãos.
Ao longo dos anos, a manifestação passou por diversas transformações, mas os aspectos e valores fundamentais permanecem vivos, como o do envolvimento de toda a comunidade nos preparativos e execução das festas que geralmente estão associadas a uma celebração religiosa. No município de Pirenópolis, as Cavalhadas são parte integrante da Festa do Divino Espírito Santo, registrada como Patrimônio Cultural do Brasil no ano de 2010. Este ano, as cavalhadas no município acontecem nos dias 5 a 7 de junho.
Ao todo, onze cavalhadas no estado, presentes nos municípios goianos de Santa Cruz de Goiás, Palmeiras de Goiás, Posse, Jaraguá, Crixás, Hidrolina, São Francisco de Goiás, Santa Terezinha de Goiás, Corumbá de Goiás, Pilar de Goiás e Pirenópolis, estão na rota do pleito do registro a Patrimônio Cultural do Brasil. Esses são alguns municípios com as mais tradicionais festas do calendário no estado.
Adail Luiz Cardoso, 57 anos, atualmente é o rei cristão nas cavalhadas de Pirenópolis, e está muito feliz com a retomada da manifestação. “Há 40 anos faço parte das cavalhadas. Esse retorno da festa significa muito para nós, é uma tradição que jamais pode ser esquecida. A representatividade é grande na cidade”, relata. “Chega essa época, todos já esperam pela apresentação das cavalhadas”, comemora.
Allyson comenta que para os que vivenciam a manifestação cultural, a retomada, após dois anos de impossibilidade de vivenciar as cavalhadas, devido às restrições e suspensões de eventos ocasionados pela pandemia de Covid-19, é extremamente importante. “Para o Iphan, enquanto instituição pública federal, vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, o retorno da manifestação, a pertinência do pedido de registro e a continuidade do processo de instrução técnica expressam o acolhimento das expectativas dessas comunidades em ter o bem cultural reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil”, finaliza o superintendente.