Abertura de Seminário: Alfabetizar crianças depende de uma estratégia baseada em respeito mútuo
É necessária uma estratégia nacional, respeitando as peculiaridades e os avanços regionais para garantir a alfabetização das crianças. A análise é compartilhada pela secretária-executiva do Ministério da Educação, Izolda Cela, pelos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e da Paraíba, João Azevêdo, e pelos secretários estaduais de Educação presentes na mesa de abertura do Seminário Nacional pela Alfabetização 2023, que iniciou nesta terça-feira (19), em Brasília (DF).
Com apoio das organizações civis, dos estados e municípios, assim como do Consed (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação), da ABC (Associação Bem Comum), do Instituto Natura e da Fundação Lemann, o evento mostra como as parcerias intersetoriais produzem resultados eficientes na alfabetização de crianças.
“Nós estamos aqui pelo direito das crianças de ter chance”, ressaltou Izolda Cela, na abertura do Seminário, sendo aplaudida pelos presentes. “Temos de respeitar as autonomias”, reiterou. “O que seria de nós se não fossem as boas interlocuções e a capacidade de ter parceiros?”, acrescentou a secretária-executiva, que foi governadora do Ceará e secretária estadual de Educação.
O Instituto Natura é apoiador do seminário. A Diretora de Políticas Educacionais do Instituto Natura, Maria Slemenson, fala sobre as políticas estruturadas de alfabetização no Brasil. “Hoje temos 3.800 municípios envolvidos em políticas estruturadas de alfabetização, chegando ao alcance de mais de 3 milhões de alunos de 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Hoje é um dia histórico de muita celebração mesmo, da gente poder realizar um feito desta magnitude no Brasil.”, celebra.
Já Márcia Ferri, Gerente de Alfabetização do Instituto, comenta a presença de representantes governamentais, conselhos e atores do terceiro setor no evento.
“Aconteceu hoje o primeiro dia do seminário nacional pela alfabetização 2023: um presente para o futuro. Contamos com a presença de governadores, secretários estaduais e municipais de educação, Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União dos Dirigentes Municipais de Educação SP (Undime) e atores do terceiro setor. Todos mobilizados e convocados a formar uma grande rede que tem como foco apoiar o trabalho do professor em sala de aula e apoiar o trabalho dos gestores escolares. Além disso, contamos também com a presença do Ministro da Educação, Camilo Santana, que apresentou a proposta do compromisso nacional da criança alfabetizada.”, afirma.
O Seminário é acompanhado por cerca de 35 mil pessoas, entre presenciais e virtuais.
As experiências regionais
Caiado e Azevêdo destacaram o desafio que é alfabetizar as crianças e colocá-las na idade adequada na escola. Os governadores de Goiás e da Paraíba criaram programas para buscar soluções e ambos conseguiram resultados positivos e defenderam que apenas a ação coletiva – União, estados, municípios e sociedade – possibilitará avanços.
“Só se quebra o ciclo da pobreza se rompermos condições de educação de qualidade para as crianças”, afirmou Caiado, brincando que, onde ele vê resultados positivos na educação, como no Ceará, ele vai lá, aprende e tenta reproduzir. “A Secretaria de Educação é para dar resposta para as crianças, não é trampolim político.”
Em Goiás, Caiado disse que reformou as escolas mais antigas, aumentou o número de ônibus para as crianças da área rural e mantém uma política permanente de incentivo à educação continuada para os professores, buscando melhores salários e estimulando que se tornem gestores da educação. “Só posso cobrar da secretária de Educação, se eu der total autonomia para ela”, disse.
Azevêdo disse que, na Paraíba, ele preferiu começar pela base da educação, construindo 213 creches. “Foi o primeiro passo”, disse ele. Em seguida, foi identificado o problema alimentar, que influencia diretamente no rendimento da criança na escola. Segundo o governador, em educação é preciso pensar no todo, jamais em um ou outro aspecto.
“Só consigo ver a educação como uma corrente com vários elos e atuação em todos eles”, afirmou Azevêdo. “Às vezes uma ação simples, a gente não tem ideia onde chega.”
Secretários estaduais
A secretária estadual de Educação do Ceará, Eliana Estrela, destacou que ensino é “investimento”, não despesa. “Escola é lugar de vida, de oportunidades. Sempre com respeito e diálogo. Nada com imposição. Precisamos ter um diálogo, para aí, começar essa convocação”, disse ela, lembrando que o Ceará se orgulha dos índices elevados e bons resultados. “A escola deve ser respeitada e as crianças têm de ser respeitadas para aprender melhor. Esse regime de colaboração fortalecido ajuda a todos.”
Para o secretário de Educação em exercício do Maranhão, Anderson Santana, o programa “Escola Digna”, implantado no estado, promoveu reformas nos colégios construídos com barro e taipa. Porém, as autoridades perceberam que era necessário mais. “Paredes não ensinam, tijolos não aprendem. Fomos investir na formação dos professores”, afirmou ele, informando que há avaliação anual das escolas para identificar aspectos que devem ser aperfeiçoados. “A educação é o passo inicial. Não estar alfabetizado é estar cego, é não poder enxergar o mundo.”
O secretário de Educação de Tocantins, Fábio Vaz, detalhou a execução do “Programa de Professores” que ganhou adesão de 85% dos municípios, priorizando a educação básica com foco na alfabetização.
O secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda, emocionou os presentes ao afirmar que alfabetizar crianças é uma causa pessoal dele, uma vez que sua mãe é analfabeta. “Falar de educação é respeitar uma pessoa. Sou filho de mãe analfabeta, o que só aumenta a responsabilidade.”