A segunda parte de A saga dos intelectuais franceses
François Dosse, que vem ao Brasil em novembro, narra utopias e movimentos sociais que servem para pensar a segunda metade do século XX e os tempos atuais
François Dosse narra de forma sistemática a aventura histórica e criativa dos intelectuais franceses nesse grande painel panorâmico, que vai da Libertação e do fim da Segunda Guerra Mundial ao bicentenário da Revolução Francesa e à defenestração do muro de Berlim.
O primeiro volume, 1944-1968, abarca os anos de Camus, Sartre e Beauvoir e as suas controvérsias, as relações contrastantes com o comunismo e seu corolário stalinista, a preeminência ideológica do marxismo, as revoluções chinesa e cubana, a Guerra da Argélia, a consolidação do terceiro-mundismo e a revolta anticolonialista na África. Por seu lado este segundo volume, 1968-1989, vai das utopias esquerdistas e do combate contra o totalitarismo ao advento de uma consciência libertadora e ecológica e à desorientação da década de 1980.
Dosse aborda em profundidade os movimentos sociais em seu contexto histórico, como o Maio de 68 francês (“Em maio último, tomou-se a palavra como se tomou a Bastilha em 1789”, na famosa frase de Michel de Certeau), os dissidentes e a revolta antitotalitária no Leste europeu, o apanágio maoista e seu declínio, o feminismo e a luta pelo aborto, o enraizamento do ambientalismo, a emancipação sexual… Enfim, movimentos mais epidérmicos à cidadania do que as panaceias revolucionárias e messiânicas do período anterior.
A privatização do indivíduo e a perda do coletivo resultam, de acordo com Dosse, numa “perda de sentido, uma crise generalizada. As sociedades entram em uma fase de torpor, de grande sono, na qual se sujeitam ao jugo de forças superiores e perdem pouco a pouco o controle sobre decisões a tomar para construir um modo de vida comum”.
Cornelius Castoriadis registra assim um sinal de decadência ideológica: “Há atualmente um tempo imaginário que consiste na negação do verdadeiro passado e do verdadeiro futuro; um tempo sem verdadeira memória e sem verdadeiro projeto”, e que Dosse batiza como “ascensão da insignificância” em um “tempo fugidio e aberto para a incerteza e o abismo”.
Eis apenas alguns dos pontos de referência desta saga que engloba um dos períodos mais efervescentes e criativos da intelligentsia francesa, de Sartre a Lévi-Strauss, de Lacan a Barthes, e mais enfaticamente neste segundo volume com destaque para Foucault, Deleuze, Guattari, Derrida, Edgar Morin, Cornelius Castoriadis e Olivier Mongin, entre tantos outros.
O autor François Dosse chega ao Brasil em meados de novembro para o lançamento do livro, incluindo eventos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Título: A saga dos intelectuais franceses 1944-1989: Volume II – O futuro em migalhas (1968-1989)
Autor: François Dosse
Tradução: Leila de Aguiar Costa
Edição com encarte ilustrado
Lançamento: 14/11/2023