A evolução dos estudos do câncer de pulmão: mais esperança para os pacientes

Nas últimas duas décadas, o tratamento do câncer de pulmão passou por mudanças significativas. As opções terapêuticas eram limitadas e a sobrevivência era muito baixa, mas a introdução de novas terapias focadas no receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) trouxe uma nova era de esperança. “Antes dos anos 2000, a sobrevida mediana dos pacientes com metástases girava em torno de 9 meses. Hoje em dia, dependendo do perfil genômico, alguns pacientes podem viver anos e com excelente qualidade de vida”, conta Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas.

O EGFR é uma proteína que ajuda no crescimento e divisão das células, incluindo as cancerosas. Medicamentos que bloqueiam o EGFR podem impedir a proliferação do câncer. A partir de 2009, a introdução do gefitinibe (Iressa), um inibidor de EGFR, mudou drasticamente o tratamento do câncer de pulmão, melhorando a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.

Um editorial da revista The Lancet, publicado em 22 de junho, destaca os avanços no tratamento do câncer de pulmão nos últimos 20 anos, incluindo os resultados dos ensaios clínicos CROWN e LAURA, apresentados na Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2024. “Esses estudos mostraram o impacto de novos medicamentos como o lorlatinib e o osimertinib na luta contra o câncer de pulmão”, diz.

O estudo CROWN investigou o lorlatinib, comparando-o com tratamentos padrão. Os resultados foram impressionantes: o lorlatinib aumentou o tempo de progressão livre de doença e melhorou a sobrevivência geral dos pacientes, mostrando eficácia até em casos com metástase cerebral, uma área tradicionalmente difícil de tratar.

O estudo LAURA focou no osimertinib, um inibidor de tirosina quinase direcionado ao EGFR, em pacientes com câncer de pulmão em estágio III irressecável, tratados inicialmente com uma combinação de quimioterapia e radioterapia. Os resultados mostraram que o osimertinib prolongou significativamente a sobrevida sem progressão e reduziu o risco de metástase cerebral, uma complicação comum e devastadora no câncer de pulmão avançado.

Apesar dos avanços, novos desafios surgem. “Alguns pacientes ainda desenvolvem resistência aos medicamentos, e o câncer volta a crescer. Há também a necessidade de tornar esses tratamentos acessíveis a todos, independentemente da localização geográfica ou situação econômica. O alto custo dos medicamentos e a falta de infraestrutura adequada são barreiras significativas que precisam ser superadas”, afirma.

Prevenção

A luta contra o câncer de pulmão não se limita ao tratamento. A prevenção, especialmente por meio do controle do tabagismo, continua sendo fundamental. “Campanhas de conscientização e políticas de controle do tabaco são essenciais para reduzir a incidência da doença. Além disso, métodos de detecção precoce, como a tomografia computadorizada de baixa dose, são importantes para identificar o câncer em estágios iniciais, quando é mais tratável”, diz.

Segundo o oncologista, a troca de conhecimentos entre profissionais de saúde de diferentes países pode acelerar o progresso e levar a melhores resultados para os pacientes. “Oncologistas e pesquisadores devem continuar colaborando globalmente para garantir que todos os pacientes tenham acesso aos melhores tratamentos. A pesquisa contínua e a inovação são fundamentais para desenvolver novas terapias e melhorar as existentes. Com determinação e colaboração, continuaremos a transformar a vida dos afetados por essa doença devastadora”, afirma.

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