Doenças periodontais podem aumentar em até 25% o risco de demência
Cirurgiã-dentista e especialista em saúde integrativa, Dra. Sandra Chagas, dá dicas de como manter uma saúde cognitiva saudável
A disfunção cognitiva, um problema de saúde pública global que afeta milhões de pessoas, tem sido alvo de intensas pesquisas nos últimos anos. Enquanto a busca por uma cura continua, estudos recentes têm revelado uma ligação surpreendente entre a saúde bucal e o declínio cognitivo. De acordo com um estudo publicado na revista “Neurology”, indivíduos com doença periodontal apresentam um risco 25% maior de desenvolver demência em comparação com aqueles sem a periodontite. A perda dentária também se mostrou preocupante, aumentando em 35% o risco de demência. Outro estudo, publicado na “JAMA Internal Medicine”, apontou que pessoas com flora oral desequilibrada têm um risco 50% maior de desenvolver demência.
Para a Dra. Sandra Chagas, cirurgiã-dentista e especialista em saúde integrativa, a saúde bucal vai muito além de um sorriso bonito, sendo crucial para o bem-estar geral. “A boca é a porta de entrada para o nosso corpo, e a inflamação que se inicia na cavidade oral pode desencadear uma cascata de eventos que afetam todo o organismo, inclusive o cérebro. Doenças periodontais, perda dentária e desequilíbrios na flora oral são fatores de risco que podem levar a problemas que vão desde comprometimentos de memória até casos mais graves de demência”, afirma.
A especialista enfatiza que a saúde bucal deve ser encarada como um pilar fundamental para a saúde integral do indivíduo. “A prevenção e o tratamento adequado de problemas bucais protegem o corpo de doenças sistêmicas que podem comprometer a qualidade de vida a longo prazo”, conclui a Dra. Chagas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, há aproximadamente 10 milhões de novos pacientes com demência em todo o mundo todos os anos, e espera-se que o número chegue a 82 milhões até 2030, com um custo de até 2 trilhões de dólares, representando enormes desafios para os sistemas nacionais de saúde e de segurança social. A cirurgiã-dentista explica que isso pode ocorrer porque as bactérias presentes na inflamação gengival entram na corrente sanguínea e se espalham pelo corpo.
“Há outras condições bucais que podem estar relacionadas a problemas cognitivos, como cárie, edentulismo e higiene bucal precária. A cárie é uma inflamação que se inicia nos odontoblastos, células responsáveis pela produção da dentina, e a falta de higiene bucal adequada pode levar à gengivite e à periodontite”, explica.
Sandra reforça a importância de investigar os mecanismos que conectam a saúde bucal à cognição, como a inflamação sistêmica e a disbiose oral. A inflamação sistêmica pode levar a problemas no cérebro, pois as citocinas inflamatórias atravessam a barreira hematoencefálica, danificando as células nervosas. A disbiose oral, um desequilíbrio na microbiota bucal, pode levar à inflamação das gengivas e a problemas no coração e no cérebro, por exemplo.
A conexão entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro, também é mencionada pela especialista. “A microbiota intestinal pode influenciar a saúde cerebral. É importante manter o equilíbrio da mesma, evitando o uso excessivo de antibióticos e consumindo alimentos ricos em fibras.”
Recomendações para uma saúde cognitiva saudável:
– Higiene bucal adequada: Escovar os dentes três vezes ao dia, usar fio dental diariamente e visitar o dentista regularmente para check-ups e limpezas.
– Tratar problemas bucais: Abordar cáries, doenças periodontais e outras condições bucais o mais rápido possível.
– Alimentação saudável: Consumir uma dieta rica em frutas, vegetais e grãos integrais.
– Exercícios regulares: Praticar atividades físicas regularmente, no mínimo 30 minutos, três vezes por semana.
– Sono adequado: Dormir o suficiente, em média 8 horas por dia, sem a interferência de aparelhos como celulares e televisores.
– Gerenciamento do estresse: Encontrar maneiras saudáveis de lidar com o estresse, como meditação.
– Interação social: Manter contato social com amigos e familiares.
– Desafios mentais: Estimular o cérebro com atividades como leitura, quebra-cabeças e jogos.
“Cuidar da saúde bucal é um investimento na saúde do corpo e da mente. A medicina integrativa busca tratar a causa das doenças, e não apenas os sintomas, e pode ser uma aliada importante na promoção da saúde bucal e cognitiva de forma integrada e personalizada”, alerta a Dra. Sandra.
Outras doenças relacionadas à má higiene bucal
A complexa relação entre a boca e o corpo se estende ainda mais. A presença de mais de 75 campos interferentes, como cálculos e retrações gengivais, pode estar ligada ao desequilíbrio hormonal e a outros problemas sistêmicos. Assim como o desenvolvimento da cárie, não é apenas uma questão de higiene inadequada, mas também pode ser influenciado por condições internas do corpo, como a gordura visceral, que mantém um nível de inflamação no organismo. O edentulismo e a higiene bucal precária também interferem nos meridianos, afetando os órgãos correspondentes à falta dos dentes.
“A extração de dentes, como os terceiros molares, pode levar a problemas mentais e depressão. Cada dente está relacionado a órgãos específicos e emoções: os caninos, por exemplo, estão ligados ao fígado e à raiva, enquanto os dentes anteriores estão associados a rins, bexiga e sentimentos de vergonha”, observa a Dra. Sandra Chagas.
Outro aspecto importante a considerar é a exposição a materiais tóxicos, como flúor, mercúrio dos amálgamas e resinas contendo bisfenol. “Esses materiais são neurotóxicos e disruptores endócrinos, prejudicando a saúde a longo prazo. A escolha de materiais biocompatíveis é crucial para evitar esses problemas”, comenta Sandra.
Ela diz ainda que o uso envolvido de enxaguantes bucais, pode eliminar bactérias benéficas, essenciais para a produção de óxido nítrico no estômago, um composto vital para a vasodilatação e a regulação da pressão arterial. Portanto, a manutenção de um equilíbrio saudável de bactérias na boca é fundamental. Além disso, é crucial realizar limpezas regulares no organismo para remover metais pesados e parasitas, que podem ser neurotóxicos e contribuir para doenças crônicas, incluindo o câncer.
A especialista também menciona que uma saúde plena requer mudanças no estilo de vida, como evitar produtos industrializados e metais tóxicos, cozinhar com panelas que não liberam metais, usar produtos de higiene sem parabenos e cloro, e adotar hábitos que promovam a saúde.
“A prevenção é essencial, mas promover a saúde vai além: é garantir que o corpo esteja em homeostase, em equilíbrio, proporcionando uma vida de excelência”, finaliza a Dra. Sandra Chagas.