“Lente de contato dental é prótese, é irreversível e o paciente precisa saber disso”, diz cirurgiã dentista

Doutora em Reabilitação Oral, Talita Dantas alerta sobre a indicação adequada do tratamento que tem inúmeras vantagens, mas que demanda excelência na execução, manutenção e cuidados

Nos últimos anos, as lentes de contato dental ganharam espaço nos consultórios e, claro, nas fotos de inúmeras pessoas no Instagram. Apesar de sua popularidade, poucas pessoas sabem realmente o que é o tratamento, para quem é indicado e quais são os cuidados depois da colocação delas. Quando bem indicado, e com acompanhamento profissional, os resultados estéticos e funcionais são muito satisfatórios, mas muitos pacientes não são bem-informados para decidir.

“Sangramento da gengiva e sensibilidade ou dor espontânea que não cessa nem diminui, normalmente, são causados por falhas técnicas do professional, como erros na cimentação, excesso de material, falta de limpeza correta do cimento ou facetas com formas inadequadas. Tudo isso pode levar à inflamação dos tecidos gengivais. Se o processo inflamatório for irreversível, o paciente vai precisar passar por um tratamento de canal”, lamenta Talita Dantas, que é cirurgiã dentista e doutora em Reabilitação Oral.

A rotina de cuidados com a higiene bucal, como escovação, fio dental e visita ao dentista a cada seis meses é a mesma. “Já vi pacientes falarem que não conseguem fazer essa higienização porque os dentes ficaram grudados. Isso reflete erros no trabalho do profissional que não fez a cimentação adequada e não removeu o excesso de cimento. Se o paciente não consegue higienizar, vira uma bola de neve, porque mesmo que ele não sinta dor local, é possível sim que ainda tenha evolução de doenças cariosas. Não é correto termos dentes grudados e nem que o fio dental passe desfiando. Se isso acontece, é uma intercorrência que precisa ser resolvida”, diz.

5 verdades sobre lentes de contato que você provavelmente não sabia

1.    Lente de contato é considerada uma prótese e, por isso, é irreversível

A lente de contato dental, na verdade, é uma prótese e isso é o que tem acontecido: os pacientes abrem mão de seus dentes para colocar um material artificial para repor uma parte do corpo. Apesar de existirem opções de remoção a laser das lentes de contato, a estrutura dental desgastada deixa de existir e não é possível devolvê-la. Remover a lente de contato dental é como trocar o piso de casa: quando tiramos o piso antigo a base estará destruída e é preciso preparar o terreno para receber outro revestimento, não dá para deixar sem o piso”, afirma Talita Dantas.

2.    Nem todo dentista é habilitado para realizar esse procedimento

A colocação das lentes não é um procedimento simples e existem riscos, principalmente a perda dental. “Nós, especialistas, estamos recebendo casos de retrabalho nos consultórios. Já acompanhei pacientes que colocaram lente de contato dental há pouco tempo e estão apresentando gengivas inflamadas, dentes com cáries e outras doenças que não foram tratadas antes. Nesses casos, é preciso desfazer tudo, tratar as doenças e refazer, o que acaba sendo um custo em dobro para o paciente. O profissional precisa ter formação em reabilitação oral, prótese ou dentística”, alerta Talita.

3.    Quase sempre é preciso “desgaste” do dente para encaixe das peças

Na maioria dos casos, é necessário preparar minimamente o dente para que a lente se encaixe bem, com conforto, boa adaptação e, claro, boa estética. “Quando falamos em desgaste, pode gerar medo ou insegurança no paciente e, de fato, existem equívocos de profissionais que fazem o desgaste além do necessário. Porém, quando esse preparo é feito por um profissional com bom senso e com os instrumentais adequados, esse preparo pode ser suave e leve, mas em poucos casos a gente consegue realizar sem desgaste nenhum”, explica a cirurgiã.

4.    Lentes de contato duram até 20 anos, mas precisam de manutenção

Segundo estudos, a durabilidade das lentes é entre 10 e 20 anos, mas isso não dispensa a manutenção periódica, já que elas podem fraturar por mau hábito do paciente, infiltrar, manchar ou serem substituídas por materiais melhores e técnicas melhores. “Assim como um paciente sem lentes de contato, as visitas ao dentista devem ocorrer a cada seis meses para fazer limpeza e avaliação das lentes e para ver se é preciso algum reparo”, explica Talita.

5.    Pacientes jovens com dentes saudáveis precisam ser muito bem orientados

Outra situação lamentavelmente comum é que pacientes com dentes saudáveis – que poderiam se beneficiar de um simples clareamento ou de um pequeno reparo com resina -, acabam passando por procedimentos invasivos, e até irreversíveis, apenas pela estética. “Existe o perfil de paciente que busca pelo artificial, e isso tem que ser respeitado, mas a busca exagerada tem colocado em pauta a discussão sobre exagero de tratamentos também. É preciso ética para realizar tratamentos em pacientes muito jovens. Vejo pessoas com dentes hígidos, que não possuem uma restauração sequer, passando por procedimentos de desgastes, preparos e colocação de lente de contato apenas por modismo estético. É papel do profissional orientar essas pessoas antes de iniciar o tratamento”, finaliza Talita.

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