ARTIGO 19 celebra decisão do júri popular dos responsáveis pelo assassinato do jornalista Valério Luiz
Após ser adiado quatro vezes, julgamento condenou quatro dos cinco acusados pelo homicídio ocorrido há 10 anos
A ARTIGO 19, organização que atua em defesa e pela promoção do direito à liberdade de expressão e de acesso à informação em todo o mundo, celebra decisão do júri popular sobre o caso do assassinato do jornalista Valério Luiz, que condenou quatro dos cinco acusados na última quarta-feira (9). Após mais de 10 anos do ocorrido, o julgamento durou três dias e sentenciou à prisão imediata (com penas de até 16 anos de reclusão): Maurício Borges Sampaio, ex-cartorário e ex-presidente do Atlético Clube Goianiense; Urbano Malta, funcionário de Maurício e responsável pela contratação de Ademá; Ademá Figueredo, cabo da Polícia Militar e autor dos disparos; e Marcus Vinícius Xavier, acusado de auxiliar no planejamento do homicídio. O sargento reformado da Polícia Militar Djalma Gomes da Silva também era réu, e estava sendo acusado por envolvimento no planejamento do assassinato e na interferência nas investigações, mas foi absolvido pelo Conselho do Júri.
Valério Luiz foi morto a tiros, em 5 de julho de 2012, aos 49 anos, ao sair da rádio em que trabalhava. O inquérito policial e a denúncia feita pelo Ministério Público em fevereiro de 2013 apontavam que a motivação da execução foram as críticas constantes de Valério ao time de futebol Atlético Clube Goianiense, do qual era torcedor. À época, o time tinha como vice-presidente Maurício Sampaio, que reiteradamente confirmou sua inimizade com o radialista em entrevistas e espaços públicos.
Para Thiago Firbida, consultor sênior de Proteção e Participação Democrática da ARTIGO 19, o resultado do julgamento é positivo para toda a sociedade, mas não o suficiente. “Depois de 10 anos de luta da família, finalmente há uma resposta da Justiça. É importante que decisões nesse sentido continuem ocorrendo em crimes contra jornalistas, mas é fundamental que as investigações e os processos judiciais sejam mais céleres”,aponta. Para o especialista, o julgamento é um grande passo na garantia da liberdade de imprensa e do direito coletivo à informação, que deve ser defendido, mantido e ampliado pela Justiça.
Valério Luiz de Oliveira Filho, advogado e filho do jornalista assassinado, por sua vez, espera que a resolução do caso sirva de exemplo para que outras vítimas busquem justiça pelos seus casos. “Esperamos que o resultado desse caso contribua para o fechamento de um ciclo e para a virada de uma tendência de ataques contra comunicadores no Brasil, para que mandantes de crimes contra comunicadores sejam responsabilizados e que as pessoas, por meio do que passamos e da nossa história, saibam que, por mais que a luta às vezes seja desigual, com persistência, apoio da comunidade local e da imprensa local é possível vencer os obstáculos e conseguir a justiça. Para isso, no entanto, é necessário estabelecer o entendimento de que ferir um comunicador é ferir a categoria como um todo”, afirmou.
A sentença final do julgamento veio após mais de 10 anos do ocorrido e quatro adiamentos, sendo o primeiro por determinação do Conselho Nacional de Justiça, e os últimos, em 2022, por meio de manobras jurídicas da defesa.