ESPÉCIE viaja pela Espanha e Portugal para performance, intercâmbio e residência artística

Após realizar a centésima performance de ESPÉCIE, no Brasil, a diretora Valéria Braga e a Casa 107 dão continuidade à circulação do espetáculo em Portugal e Espanha, com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Entre 23 de setembro e 21 de outubro, o grupo realiza apresentações do solo, que tem Rodrigo Cunha em cena, e integra ações de intercâmbio e residência artística na Europa.Os trabalhos se iniciam por Saragoça, na Espanha, com atividades entre 23 de setembro e 7 de outubro, durante o Festival El fin de los días perdidos. Em seguida, o Casa 107 estará em residência artística, em Portugal, no Espaço Sekoia – Artes Performativas. O centro cultural, localizado na cidade do Porto, atua no campo da dança contemporânea e também no seu cruzamento disciplinar com outras artes performativas, visuais, cinematográficas, literárias e o pensamento.

Para encerrar o programa, ESPÉCIE tem mais duas apresentações programadas no Festival Temps d’Images (Momento II), em Lisboa. Na oportunidade, o grupo dialoga com o público, em uma roda de conversa prevista ao final da segunda performance, com participação do ator Rodrigo Cunha, da diretora Valéria Braga e de Kleber Damaso, autor da pesquisa sobre as dramaturgias do corpo e do movimento em ESPÉCIE.

A experiência – É na escuridão profunda que a plateia vivencia uma experiência singular: a observação de um corpo em estado contínuo de metamorfose e transubstanciação. Identificado com o território das artes da presença, ESPÉCIE é uma performance que ocorre nos limites do teatro imersivo e da dança contemporânea. Com direção de Valéria Braga, teve sua estreia em 2012 e segue surpreendendo o público. Para a diretora, seu conteúdo original tem sido naturalmente ressignificado e agora o trabalho dialoga com o público instigando discussões antirracistas e anticoloniais.

“ESPÉCIE não se define, segue em movimento, fala daquilo que escapa e permeia as camadas do tempo”, ressalta Braga. Segundo ela, vozes muitas vezes inaudíveis e corpos invisibilizados reivindicaram presença em cena, durante o processo criativo. A diretora lembra que o animal, a mulher, o velho habitam o espetáculo desde o seu nascedouro e que, neste momento sociocultural, suas demandas ficaram mais explícitas, instigando o debate acerca de silenciamentos históricos e dissidências. Para o coreógrafo e pesquisador Kleber Damaso, responsável pela pesquisa sobre as dramaturgias do corpo e do movimento deste trabalho, em ESPÉCIE o performer-criador é impulsionado a protagonizar, seja por sua potencialidade ou vulnerabilidade extremas. “Existe a compreensão provisória de que os corpos, assim como a vida, são, por natureza, imprecisos, moventes e transformacionais”, reforça ele, apostando na impermanência como um dos elementos mais potentes da obra.

Sem abrir mão de sua atmosfera radicalmente intimista, ESPÉCIE se manteve em cartaz por 10 anos, percorrendo uma diversificada jornada, com três amplas circulações nacionais por meio do Palco Giratório do Sesc, do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. De lá pra cá, a Casa 107 realizou também adaptação cuidadosa e arriscada para o exigente público infantil e promoveu o diálogo junto a plateias com deficiência visual e auditiva, entre outras comunidades. Tais experiências foram possíveis porque ESPÉCIE não se ampara em um texto, o espetáculo se orienta pelo corpo em estado fluido. Assim, para todas as plateias, independente de nacionalidade, faixa etária, limitações sensoriais o espetáculo é um convite para a observação sutil da passagem do tempo − passado e presente de maneira intermitente. “Como o trabalho é visual e não oral, fica amplamente aberto para interagir com diversos públicos, sem barreiras”, avalia Rodrigo Cunha.

Estas ações compõem o projeto de manutenção do grupo e da equipe da Casa 107, apoiado do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Na primeira etapa dos trabalhos, o grupo realizou oficinas, debates e apresentações com o intuito de compartilhar processos artísticos e culturais com a comunidade surda. Para tanto, o ator Rodrigo Cunha e a diretora Valeria Braga contaram com a mediação do intérprete de Libras, Vinny Batista. As atividades foram gravadas e editadas em audiovisual por Nico Gualtiere. “Esta etapa inicial fortalece as proposituras do projeto como ato e gesto de abertura, além de aproximar da complexidade do tema políticas públicas e acessibilidade”, ressalta Valéria Braga.

SERVIÇO

23/09 a 7/10_ Festival El fin de los días perdidos, Saragoça (Espanha)

8 a 15/10_Residência artística no Espaço Sekoia, Porto (Portugal)

16 a 21/10_ Festival Temps d’Images (Momento II), Lisboa (Portugal)

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