No Julho Amarelo hepatite misteriosa é preocupação para especialistas
Com o objetivo de reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle, o Julho Amarelo é o mês de combate às hepatites virais, campanha criada pelo Ministério da Saúde em 2019. A doença, que é uma inflamação do fígado, pode ser causada por vírus classificado pelas letras do alfabeto em A, B, C, D (Delta) e E ou pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas.
No entanto, nos últimos meses o mundo todo vem se preocupando com mais uma variação da doença, chamada até então de hepatite misteriosa. De origem desconhecida, o novo vírus que atinge crianças e adolescentes não tem relação direta com os outros causadores conhecidos da hepatite. Segundo o Ministério da Saúde, há 88 casos e sete mortes em investigação no Brasil. No mundo, há mais de 920 casos e 18 mortes.
De acordo com o hepatologista Rafael Ximenes sempre existiram casos de hepatite dos quais não é possível identificar a causa, mas o que chamou atenção nos últimos meses foi o aumento no número deles, especialmente em crianças e adolescentes.
“Mesmo com pesquisas realizadas, a situação não está completamente esclarecida, parece haver a participação do adenovírus em grande parte dos casos. Este é um vírus que tradicionalmente causa infecções gastrintestinais e respiratórias. O que não está claro é o motivo de crianças previamente saudáveis estarem apresentando lesão hepática grave associada ao adenovírus”, relata o médico.
O especialista ainda comenta que as hipóteses mais prováveis da hepatite misteriosa são: uma resposta inflamatória exacerbada secundária a infecção prévia pelo vírus da Covid-19, uma lesão combinada do adenovírus com algum outro agente (infeccioso ou medicamentoso, por exemplo) ou uma onda muito grande de infecções pelo adenovírus que culminou com uma maior incidência de uma lesão rara e não identificada previamente.
Sintomas
Rafael Ximenes explica que os sintomas da hepatite misteriosa são semelhantes a outras causas de hepatite, incluindo mal estar, falta de apetite, náuseas, vômitos, desconforto ou dor abdominal, icterícia (olho e peles amarelados) e, em casos mais graves, sonolência, confusão mental e até coma, podendo ser confundida com outra hepatite existente.
“Pelos sintomas serem muito semelhantes, bem como as alterações nos exames de sangue (aumento importante das enzimas que mostram lesão no fígado, em especial AST e ALT), a chamada hepatite misteriosa pode sim ser confundida com as outras de causa já conhecida. O principal fator de diferenciação é a ausência de identificação dos agentes tradicionais de hepatite na investigação da causa”, detalha o especialista.
O hepatologista relata que há alguns cuidados que devem ser tomados para evitar a contaminação do novo vírus e reduzir a chance de transmissão da doença, em especial a higienização das mãos após usar o banheiro e antes de se alimentar. “Devemos adotar algumas medidas como fazer o uso de água tratada e filtradas ou fervida, ter atenção na lavagem e preparação de alimentos (em especial crus) e continuar com as precauções respiratórias (uso de máscaras, cobrir a boca e nariz ao tossir ou espirrar, limpeza das mãos com água e sabão ou álcool gel)”, comenta.
Tratamento
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), dos 920 casos prováveis da doença, 45 precisaram realizar transplante de fígado. De acordo com Rafael Ximenes, esses casos de transplantes só reforçam a importância de ficar atento aos sintomas e de procurar um especialista experiente para se evitar transplantes desnecessários ou atraso do procedimento naqueles casos em que ele será essencial.
“O tratamento consiste em controle de sintomas, monitorização da função hepática e de outros órgãos, tratamento de infecções bacterianas que podem surgir e definir se o fígado irá se recuperar espontaneamente ou o transplante será necessário. Em casos graves é frequente que o paciente apresente mau funcionamento de outros órgãos e precise ficar em UTI. Devemos ficar atentos, pois conforme os dados da OMS e Ministério da Saúde, o risco de necessidade de transplante e/ou óbito é considerado alto”, finaliza o médico.