Rússia ataca a Ucrânia com tanques e bombardeios em Kiev e outras cidades

A Rússia atacou a Ucrânia nesta quinta-feira (24/2) com bombardeios contra alvos militares em Kiev, Kharkiv e outras cidades no centro e no leste depois de o presidente Vladimir Putin ter autorizado uma operação militar nos enclaves separatistas do leste do país, segundo o ministério da Defesa da Rússia.

O governo ucraniano fala em oito mortos pelo bombardeio.No começo da manhã, no horário local, sirenes antiaéreas soaram nas cidades de Kiev e Lviv, numa cena rara na Europa desde o fim da 2ª Guerra. O Ministério da Defesa russo garante ter destruído a capacidade de defesa antiaérea da Ucrânia, bem como parte de seus jatos na operação e negou que seus militares estivessem realizando ataques contra cidades ucranianas.

“Armas de alta precisão estão tornando inoperantes a infraestrutura militar do Exército ucraniano, sistemas de defesa aérea, pistas e jatos das forças aéreas”, disse a pasta.

Os ucranianos dizem ter derrubados cinco caças russos e um helicóptero durante os bombardeios, o que Moscou negou. O comandante-chefe das forças armadas ucranianas, o general Valery Zaluzhni, disse que a ordem do presidente Volodmir Zelenski era a de infligir o máximo de baixas aos militares russos que invadirem o país.

Sirenes soaram em Kiev e Lviv para alertar a população dos ataques, e muitos se refugiaram em bunkers em estações de metrô.Autoridades ucranianas dizem que tropas russas desembarcaram em Odessa e na Crimeia enquanto outras estão cruzando a fronteira para Kharkiv.

O serviço de emergência estatal da Ucrânia diz que ataques foram lançados contra 10 regiões ucranianas, principalmente no leste e sul do país. Pelo menos sete ataques aéreos “poderosos” no aeroporto Vasilkovsky nos arredores de Kiev, onde os caças-bombardeiros militares da Ucrânia são mantidos.Em terra, na fronteira da Ucrânia com Belarus, tanques russos foram vistos entrando no território ucraniano, segundo a guarda fronteiriça ucraniana.

A Rússia tem 30 mil homens no país vizinho e Kiev fica a cerca de 150 km da fronteira. No leste, separatistas apoiados pela Rússia disseram que lançaram uma ofensiva na cidade de Shchastia, controlada pela Ucrânia, na Província de Luhansk, disse a agência de notícias russa Interfax. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, fez um novo pronunciamento à nação ainda nesta madrugada. “Nós somos fortes, estamos preparados para tudo e vamos vencer”, declarou. Ele também disse que vai permanecer em sua

residência o quanto for possível. Pouco depois do ataque, seu governo declarou lei marcial em todo o território ucraniano.”A Rússia lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia e está atacando cidades com armas, disse o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, em um tuíte nesta quinta-feira.

O chanceler disse que a Ucrânia precisa de armas e ajuda humanitária para responder à agressão russa. “Putin acaba de lançar uma invasão em grande escala da Ucrânia”, disse Kuleba, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin. “Esta é uma guerra de agressão. A Ucrânia se defenderá e vencerá.

O mundo pode e deve parar Putin. A hora de agir é agora.

“Ameaças de Putin Em uma mensagem televisionada, Putin anunciou sua decisão e prometeu retaliação a quem interferir na operação russa na Ucrânia. Na mensagem, o líder russo, que justificou sua decisão por um pedido de ajuda dos separatistas pró-russos e pela política agressiva da Otan com Moscou, também pediu que os militares ucranianos “deponham as armas”.

“Qualquer um que tente interferir conosco, ou mais ainda, criar ameaças para nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e o levará a consequências como você nunca experimentou em sua história.”Putin classificou sua operação como um ataque aos “nazistas” na Ucrânia, assim como a rejeição da ordem mundial liderada pelos EUA.

Segundo ele, a aspiração da Ucrânia de ingressar na Otan representa uma ameaça terrível para a Rússia. Ele evocou o bombardeio da Otan à Iugoslávia em 1999 e a invasão do Iraque pelos EUA em 2003 para deixar claro que via o Ocidente como moralmente falido.

“Durante 30 anos, tentamos deliberada e pacientemente chegar a um acordo com os países da Otan sobre segurança igual e indivisível na Europa”, disse Putin.”Tomei a decisão de realizar uma operação militar especial”, disse Putin. “Seu objetivo será defender as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev.

Para isso, visaremos a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, assim como levar ao tribunal aqueles que cometeram vários crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa.

Nossos planos não incluem a ocupação do território ucraniano.”Biden promete respostaEm resposta, o presidente americano, Joe Biden, disse que os EUA vão responder de forma unida e decisiva. Ele prometeu se pronunciar nesta quinta-feira sobre quais consequências a Rússia irá enfrentar. Nos últimos dias, Putin vinha dizendo que ainda não havia decidido se, de fato, lançaria uma operação militar na Ucrânia, depois de, na semana passada, reconhecer a independência dos enclaves separatistas de Donetsk e Luhansk.

O anúncio ocorreu no momento em que o Conselho de Segurança da ONU se reunia em Nova York para debater a crise, a pedido de Zelenski. Coincidentemente, a reunião está sendo presidida pelo embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya. O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo ao presidente russo. “Putin, impeça suas tropas de atacar a Ucrânia. Dê uma chance à paz. Muitas pessoas já morreram”, disse.

Discussão na ONUA decisão de Putin gerou repercussão imediata na ONU, cujo Conselho de Segurança se encontrava reunido no momento da invasão. O enviado da Rússia à ONU, Vasily Nebenzya, defendeu seu país, dizendo que Moscou não está sendo agressiva contra o povo ucraniano, mas contra a “junta” que ocupa o poder em Kiev. “Não há purgatório para criminosos de guerra, eles vão diretamente para o inferno”, disse o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, à Nebenzya.

O enviado da França condenou a Rússia por “escolher a guerra” e disse que o país deve ser responsabilizado no Conselho de Segurança. O enviado britânico classificou as ações russas de “sem motivos” e “injustificadas”. O enviado alemão instou a Rússia a interromper a ação imediatamente. “No exato mesmo momento em que estamos buscando paz, Putin enviou uma mensagem de guerra”, disse o enviado americano. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se manifestou. “Esse é o momento mais triste do meu mandato”, afirmou.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou fortemente o “ataque imprudente” da Rússia, afirmando que ele coloca em risco incontáveis vidas civis. Ele também prometeu que a aliança fará o que for necessário para proteger e defender todos os aliados.SançõesNa comunidade internacional, a União Europeia anunciou sanções contra o ministro da Defesa e os chefes militares russos, o chefe de gabinete do Kremlin, o ministro do Desenvolvimento Econômico e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

As sanções publicadas no Diário Oficial da UE consistem no congelamento de bens e na proibição de vistos contra os afetados.Por sua vez, Biden anunciou na quarta-feira sanções contra a empresa encarregada de operar o gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha.

A medida foi anunciada após Berlim suspender o controverso gasoduto, um dia antes. No dia anterior, os EUA já haviam tornado públicas as medidas contra os bancos e oligarcas russos, denunciando o “início de uma invasão russa” na Ucrânia. A Rússia prometeu uma resposta “forte” e “dolorosa” às sanções americanas.

RefugiadosKiev vem há oito anos lutando contra os separatistas no leste do país, um conflito que já deixou mais de 14 mil mortos. Muitos temem que a crise possa culminar no pior conflito na Europa desde 1945, quando terminou a 2ª Guerra. A ofensiva russa pode desencadear uma nova crise de refugiados com até 5 milhões de pessoas deslocadas, alertou a embaixadora americana na ONU em Nova York.

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