04/02 – Dia Mundial de Combate ao Câncer Câncer de pulmão em não fumantes: uma ameaça crescente à saúde global
No Dia Mundial de Combate ao Câncer, uma revisão publicada em janeiro na Nature Reviews Clinical Oncology, intitulada Câncer de pulmão em pacientes que nunca fumaram — uma doença emergente, destaca um cenário preocupante do câncer de pulmão: apesar de os cânceres associados ao tabagismo ainda dominarem os diagnósticos, o câncer de pulmão em não fumantes (CPINF) surge como a quinta causa mais comum de mortes por câncer em 2023, afetando principalmente mulheres e populações asiáticas.
Segundo Carlos Gil Ferreira, oncologista torácico e presidente do Instituto Oncoclínicas, o estudo revela insights importantes sobre as características moleculares e genômicas distintas do CPINF, impactando diretamente nas decisões e resultados do tratamento. “O CPINF, predominantemente adenocarcinoma de pulmão, apresenta uma singularidade genética que abre oportunidades para abordagens terapêuticas específicas. À medida que as taxas de tabagismo diminuem globalmente, o CPINF pode se tornar proporcionalmente mais relevante nos diagnósticos de câncer de pulmão, destacando a importância de entender sua biologia única.”, diz.
Os pesquisadores vêm descobrindo características únicas no câncer de pulmão em não fumantes, como padrões genéticos e formas de disseminação. Uma descoberta importante foi a presença de alterações genéticas em genes como EGFR, ALK, ROS1 (essas siglas representam genes específicos que, quando sofrem mutações ou alterações, podem desempenhar um papel no desenvolvimento do câncer de pulmão em não fumantes), que são mais comuns nessa forma da doença em comparação com os cânceres de pulmão ligados ao tabagismo.
Outro ponto destacado no estudo é que no CPINF, a proteína PD-L1, associada à resposta do sistema imunológico, é encontrada em níveis mais baixos do que nos cânceres de pulmão relacionados ao tabagismo. “Isso sugere que estratégias de tratamento diferentes podem ser necessárias, considerando suas características moleculares específicas”, afirma.
A relação entre a qualidade do ar e o câncer de pulmão é destacada e a poluição atmosférica é vista como um fator ambiental crucial no aumento do risco da doença. A exposição a poluentes como ozônio, material particulado (especialmente PM2.5) e substâncias químicas tóxicas está associada a um maior risco de desenvolver câncer de pulmão, com classificações oficiais, como as da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), reconhecendo esses elementos como carcinogênicos. Além disso, a exposição à poluição do ar pode aumentar ainda mais o risco de câncer de pulmão quando combinada com o tabagismo. Os efeitos adversos à saúde são considerados mais graves em pessoas que fumam e também estão expostas à poluição do ar, tornando essencial a implementação de estratégias globais para melhorar a qualidade do ar como parte integrante da prevenção do câncer de pulmão. “É preciso destacar a necessidade de reduzir disparidades na exposição e abordar questões socioeconômicas na implementação de políticas ambientais eficazes. São imprescindíveis esforços conjuntos para mitigar os riscos à saúde respiratória da população”, diz.
A dificuldade de identificação nas fases iniciais devido à falta de sintomas claros é um dos desafios enfrentados na detecção precoce do câncer de pulmão em não fumantes. A ausência de exames de rastreamento eficazes e a diversidade nas características moleculares do CPINF também contribuem para a detecção tardia. “Diante disso, é crucial reconsiderar as diretrizes de diagnóstico, priorizando testes genéticos específicos para guiar tratamentos personalizados. A compreensão desses desafios sublinha a urgência de desenvolver métodos inovadores para diagnóstico precoce do CPINF, melhorando substancialmente as perspectivas de tratamento”, afirma. Nesse contexto, a pesquisa destaca a necessidade de redefinir as orientações para diagnóstico e tratamento do CPINF, enfatizando a importância dos testes genéticos, sequenciamento de próxima geração e terapias com inibidores de tirosina quinase, que se tornaram fundamentais no manejo eficaz da doença.
Para o oncologista, o estudo ressalta a urgência em compreender e enfrentar os desafios crescentes apresentados pelo CPINF. “A pesquisa destaca a necessidade de estratégias preventivas e terapêuticas inovadoras, abrindo caminho para futuras iniciativas de rastreamento em indivíduos de alto risco. Compreender o CPINF não apenas aprimora a gestão da doença, mas também oferece esperança e direção na luta contra essa ameaça crescente à saúde global”, afirma.